sexta-feira, 22 de março de 2019

Água



Ela se reúne, empoça e escolhe a dedo a trilha aonde vai se esparramar, todas elas escolhidas com cuidado porque o seu destino é dar vida ao caminho que acompanha sua trajetória e assim vai vicejando as encostas, deixando em estado de progresso seus banhados. A água possui uma limpidez translucida em todas as suas nascentes, o que não quer dizer que esta imagem consiga transcorrer deste modo toda a sua passagem pelo território.

Existem tantas linhas cruzadas a partir de uma vertente, variando seu destino conforme os meandros da topografia, que nunca é de livre arbítrio, muito pelo contrario, seguir incólume na sina vítrea como manda a natureza que a criou. O solo é quem propõe o traçado e então a água vai permeando o caminho que o planeta proveu.

Pobre nascente! Borbulha cristalina inicialmente, porém, tem seu destino traçado a percorrer tantos caminhos quantos a natureza pródiga lhe determinou, e assim o faz sem pestanejar. Lá se vai ela sinuosamente invadindo terras, montes e colinas que poderá ser da mais agreste e inóspita até a mais pujante, sem sequer imaginar as modificações que seu curso irá sofrer por outros coadjuvantes que permeiam o caminho.

Recém-nascida, não surge muita surpresa, porém, ao engrossar seu leito brota no caminho desvios que a remete por debaixo da terra e deste jeito se vê atravessando grandes conglomerados de cimento com tuneis de concreto lhe oferecendo passagem. Assim fica determinado que naquele lugar a nascente carece de esconder-se o que de certo modo não é coerente com a sua  criação.

Em outro tanto do percurso suas águas até então cristalinas se transformam em um espesso caldo escuro sem que o curso possa ser cancelado e deste jeito triste, aquele olho d’água vítreo advindo dos montes se transforma em caudaloso córrego fétido. Nas suas margens a humanidade faz o desserviço. Pobre planeta, triste fim.

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