sexta-feira, 29 de março de 2019

Ouvindo



Neste dia me joguei em qualquer caminho que se apresentasse porque dentro de mim não havia mais espaço para meus pensamentos e muito menos para ouvir o que a vida resolvesse vociferar. Não sei direito meu estado uma vez que o mar me chama à chincha e lá vou eu estabanada atender o chamado imperioso, como se não houvesse outro dia pela frente, como se essa fosse a única opção, como se fosse uma cruza de vida ou morte. A disposição é essa, é só me chamar que eu vou.

Não demorei muito para encontrar a saída, ora veja, na beira da praia bem como é peculiar. Assim eu a encontrei, impecável e solitária parecendo me esperar e ao chão me joguei para ter a oportunidade de ouvir o que até mim não chegava, por um, ou por todos os motivos. Ávida, nem bem a resgatei e já minhas lágrimas lavavam a pequena estrutura que se mostrou receptiva às demandas que me afligiam.

Não precisei aproximar a linda concha, enviada por Netuno, pois de cara percebi que os primeiros acordes sonoros já haviam me rondado em sonhos, em mensagens dúbias, em versos mal feitos, súplicas infundadas, enfim, um restolho de recados que já haviam me alcançado como falácias e eu não lhes havia dado crédito, afinal, o que não vem para somar, descartado está.

Resolvi virar o jogo e assim me assentei, bem na beira do mar, com a vieira em punho e com a certeza de relatar àquela acústica tudo o que se passava no meu coração porque, deste jeito, eu tinha convicção que boas lembranças adviriam. Minha aposta no mar foi um sucesso uma vez que comecei a escutar todos os acordes sonoros líricos que aquelas lembranças outrora me fizeram dançar, sorrir e desejar que assim a vida seguisse, mesmo em dúvida.

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