Aqui, onde decidi lançar raízes, um local que
está mais para caixa-pregos, volta e meia acontece um apagão generalizado me
fazendo correr à janela para verificar as mudanças da paisagem na noite escura
que me encanta, pois certamente a falta da luz artificial vai trazer aos nossos
– pobres – olhos cegos o que nos é ocultado noite após noite. Nem bem me
acostumei com a penumbra e a nuvem de vagalumes se exibe por entre a copa das
árvores brincando de esconde-esconde uns com os outros, certamente aproveitando
este cochilo humano para então cumprir com o destino que lhes foi auferido.
Os besouros encantadores de criança, muito
mais dentro de livros de historia do que nas matas, riachos e afins estão apagados
da nossa rotina que recebe feérica iluminação artificial seja dia ou noite e
deste jeito esquisito sua defesa e sua reprodução ficam ameaçadas. Num piscar
de apagão os besouros iluminados se animam e saem à caça em meio aos jardins
que em sua plenitude dá uma descansada geral dos artifícios humanos. A correria
é unânime porque por ali vão acontecendo os namoros e a energia liberada pela
luminescência dá o start ao seu instinto predador ocasionando uma renovação
natural que a natureza agradece.
À parte dos pirilampos tão sonhadores a
negritude da noite acontece com muita calma, dando recados sutis que induzem ao
silêncio de cada um, uma vez que a noite é soberana na sua escuridão. Naquele
interregno da vida moderna é permitido olhar com outros olhos o entorno,
enxergar o que – parece mentira – o dia não mostra, a alma não percebe, a vida
não deixa, os muros da cidade ocultam e, muito pior, nossa alma não permite. Às
vezes demora um pouco mais para a energia voltar, o que pode ser um presente
aos ratos de praia.
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