Abandono é coisa séria, mas por aqui, onde
rola as areias do Litoral Norte é mais do que normal a prática do desertar, uma
vez que nosso endereço, em sua maioria, dança conforme a musica, o que quer
dizer que existe no calendário anual ocasiões específicas em que a vida se
agita para mais. Pensando metaforicamente, o olhar de cima poderá contemplar a
evasão do povo com todos os seus pertences se dirigindo praticamente para um só
logradouro, como uma massa real que vai se confundir com a selva de pedra de
cada um.
Para quem fica a urbanidade volta ao modo
praiano blindado pelas características do mar que peremptoriamente toma posse
de sua parte neste quadrado que por algum tempo ficou ao dispor de corações desconhecidos
em sua maioria.
Os que ficam tem amor ao lugar e lhe deve seu
sorriso todo santo dia porque não há como não se deslumbrar frente ao oceano,
este maioral que regula o humor, que alonga o olhar ao horizonte trazendo a paz
por mais que haja conflito, que resfria o corpo para então chegar à
consciência, que comanda a brisa que enfuna as velas dos pesqueiros e, mais que
tudo compactua com devoção para o sucesso de nossa fauna e flora assim como
toda a performance da natureza aos seus pés.
E lá vamos todos praianos de carteirinha
usufruir alguns meses onde não precisamos dormir ao som de bate-bum nenhum, de
se imiscuir no mar de guarda-sóis na beira da praia, de ficar na fila do pão
como ilustre desconhecido, de não poder andarilhar por ai, não conseguir ouvir
o canto dos pássaros e pior do que tudo, na linha do horizonte sempre há uma
inconveniência. Então fica a certeza do acerto na escolha da beira do mar para
viver, seja na juventude seja na velhice, sempre é tempo. Amém.
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