sábado, 14 de julho de 2018

Um Mar Só Para Mim



Eu tenho a impressão que nasci assim, manchada de letras, coberta de frases que nem sempre tiveram vida própria e muito menos saíram por ai a vociferar verdades e mentiras, destas, de que tanto gosto de me arvorar. Parece que sempre estive iludida e mesmo quando não manchava os papéis com minhas ideias elas sobrevoavam como mariposas dentro da minha cabeça. Esta certeza de fantasia eu tenho até hoje. Tudo esta sempre em movimento para mim e com um norte bem definido, e assim, ficando em branco ou dispersando letras onde me der na telha, vou tentando tirar este vácuo que me assola.

A vida, que não dá paradinhas estratégicas para recuperar o fôlego vai passando por cima de todos os apontadores e sem muito controle vai se amigando com o clima, porque este, sim, dita a vida em estações, balbucia cantigas enganadoras e faz com que a natureza se ajoelhe aos seus pés como únicos mandantes. Queria eu estar ao pé de tantas ideias, de tantos fatos, de tanta alegoria do entorno. Quisera me embebedar de todo alfabeto de uma única vez para que assim tivesse a ressaca precavida de muitas historias na tela, no papel, na rede. Seja lá o que isso vai significar no futuro.

Queria para mim um mar. Não este que me passa na frente dia após dia zombando da minha ausência criativa, se esmerando em tramoias com ondas que se refestelam junto à orla vazia, brincando de ser grande, de estar sujo, de estar gelado ou morno, de arrefecer sua força só para zombar de quem por aqui não pode estar em tempos frios. Acalma-se e enfurece-se em todo momento, aproveitando que não há pressão para que fique nos conformes para veranistas.

O meu mar seria bem parecido na personalidade e no destino. A sua composição seria desigual, teria uma massa de letras, de fonemas, de adjetivos, de pronomes, de adjuntos, preposições, pontuação, acentuação, sinônimos, antônimos, siglas e nomes próprios almejando expressões de quilate duvidoso. O destino que eu proponho ao dito cujo é que me arremesse em ondas gigantes, todo o dia, letras de que preciso para sobreviver. Amém.

Nenhum comentário:

Gosto amargo

  Girei os calcanhares com gosto amargo na boca travando meu raciocínio para reconhecer o espaço de tempo que ocupo desde há muito e que hoj...