A vista mudou, mas não há jeito de o sol ir
embora e para alegria de muitos não se desgruda do pouco vento e da lucidez das
águas do mar que resolveram se aquietar e transparecer suas entranhas rasas e
profundas para quem andar por aqui com este tempo chamado outono travestido de
verão. As noites não enganam ninguém, mas quem se importa? No raiar do dia todos
os chinelos levam para a beira do mar, as cadeiras e os guarda-sóis acompanham
a cuia e a impressão é de um verão que não acaba nunca. A ilusão do praiano é
estar em outro lugar do planeta e vai assim cruzando os dedos para que o frio
demore a apontar as orelhas.
Para isso toda reza fica fácil, toda opção
quente vem para fazer coro com o brinde do tempo que decidiu por conta própria
fazer o outono fantasiado. Mas não é aquele verão soberbo onde nem as formigas
tem vez nas calçadas, que a careca arde como fogo em brasa só na caminhada até
a padaria, que as filas tomam conta de todo lugar parecendo que a cidade inflou
e para vivê-la, somente ficando um atrás do outro e de certo modo tudo medido
em poucos metros, quiçá, centímetros. Dá para sentir no ar o bafo na nunca que
paira nas ruas do comercio durante a temporada.
Mas a dita cuja época de veraneio se foi e há
muito, então, talvez a Iemanjá que reina soberana no calçadão esteja protegendo
esta gente que tem em seu DNA o amor pela praia, o mar, o sol e a brisa. Os
nativos se enchem de graça e coragem e passam a usufruir com galhardia a
cidade, onde não existe mais competição de chegar prematuramente em nenhum
lugar, porque disponíveis se encontram.
Na mira certeira, aquele banco de praia
encarapitado no cômoro desafia este tempo coordenado por Deus a passar por ali
um momento, respirando, refletindo, agradecendo e ocupando mais um nobre lugar
tão singelamente disponível.
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