Talvez a mulher praieira carregue dentro de
si ilusões que o mar sempre proporciona a quem lhe tem fé, a quem se enrabicha
todos os dias por ele, a quem antes de seguir o dia adota o instinto de
conferir as ondas e fazer a prece necessária para si e para os seus. Ela vai
passando no seu melhor andar conquistando a cada amanhecer um milagre, porque
são eles os trunfos esperançosos de quem vive na beira do mar. Uma pitada de
fantasia aterrissa todo o dia nas ventas do gênero feminino.
A presença é bem variada e pode acontecer no
esticar das canelas conferindo o percurso apenas para respirar fundo e depois dar
conta dos afazeres. Estes se multiplicam e direciona tantos ramais que não dá
muito certo fazer listas. A personalidade da mulher indômita que não arrefece
com o nordestão e tampouco com o sol de verão implacável dá o tom do discurso peculiar
que supera as simplórias conversas de salão tornando-se desde o amanhecer uma
ordem para o tempo.
No seu imaginário e na história a mulher visualiza
o horizonte na espera de avistar o barco pesqueiro que ganhou as ondas bem cedo
e de lá deve retornar com o sustento de um e muitos mais. Nesta posição de aguardo
as preces que sobem a Deus são para que haja desencontro das sereias que por
ali singram seus dotes malévolos. Ela mesma, em sua vaidade antiga, invejava as
ditas mulheres-peixe por conta do seu poder de sedução avassalador que reunia
em um corpo só a grandeza do mar e o canto que deseja envolver a marinheirada
em suas embarcações.
Agora, a espera fica apenas no pensamento
porque as amarras foram rompidas e desde a muito que a força do bíceps é
dividida de igual para igual, que a marcha é par e par, seja para recolher uma
rede em alto mar seja para recolher o fruto do seu mais variado talento
intelectual que viceja nesta costa.
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