quinta-feira, 8 de março de 2018

Mulher praieira



Talvez a mulher praieira carregue dentro de si ilusões que o mar sempre proporciona a quem lhe tem fé, a quem se enrabicha todos os dias por ele, a quem antes de seguir o dia adota o instinto de conferir as ondas e fazer a prece necessária para si e para os seus. Ela vai passando no seu melhor andar conquistando a cada amanhecer um milagre, porque são eles os trunfos esperançosos de quem vive na beira do mar. Uma pitada de fantasia aterrissa todo o dia nas ventas do gênero feminino.

A presença é bem variada e pode acontecer no esticar das canelas conferindo o percurso apenas para respirar fundo e depois dar conta dos afazeres. Estes se multiplicam e direciona tantos ramais que não dá muito certo fazer listas. A personalidade da mulher indômita que não arrefece com o nordestão e tampouco com o sol de verão implacável dá o tom do discurso peculiar que supera as simplórias conversas de salão tornando-se desde o amanhecer uma ordem para o tempo.

No seu imaginário e na história a mulher visualiza o horizonte na espera de avistar o barco pesqueiro que ganhou as ondas bem cedo e de lá deve retornar com o sustento de um e muitos mais. Nesta posição de aguardo as preces que sobem a Deus são para que haja desencontro das sereias que por ali singram seus dotes malévolos. Ela mesma, em sua vaidade antiga, invejava as ditas mulheres-peixe por conta do seu poder de sedução avassalador que reunia em um corpo só a grandeza do mar e o canto que deseja envolver a marinheirada em suas embarcações.

Agora, a espera fica apenas no pensamento porque as amarras foram rompidas e desde a muito que a força do bíceps é dividida de igual para igual, que a marcha é par e par, seja para recolher uma rede em alto mar seja para recolher o fruto do seu mais variado talento intelectual que viceja nesta costa.

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