Foi um pouco demais para mim naquele dia ter
de enfrentar um mergulho não programado, um afundamento que me tomou o corpo
todo de surpresa, que, além de submergir cada pedacinho de mim deixou escondido
todo o meu sentimento, toda a minha indignação, minha reação a tudo, meus amores
perdidos que, aparentemente, não me querem deixar em paz, mesmo depois de
mortos.
Fui mais esperta, talvez, que os demônios de
plantão nos arredores e fiquei com o meu respiro para fora naquele aguar tão
profundo. Acalmei-me um pouco porque achei interessante flutuar um pouco pela
história, ficar a mercê de uma onda muito maior do que eu, não sentir as dores
do esqueleto que resolveram se apegar a mim com um amor tão arraigado que
parece impossível livrar-me delas. Mas tudo isso surgiu, talvez, para que eu
possa enxergar que eu sou essa densa massa que me envolve. Eu faço parte
intrínseca deste envoltório que por muitas vezes eu acabo excluindo, porque
penso que ficar sempre dando a cara à tapa, me expondo sem defesas é uma boa alternativa.
Mas não é.
A escuridão me envolve e por isso me traz o
acomodamento de que eu tanto preciso, me cinge em um negrume que minha alma anseia,
que minhas entranhas se confortam e planam no infinito sem destino de
flutuação. A ausência se considera a rainha da festa porque neste estágio nada
pode apontar, nada pode sugerir, porque o mistério envolve o corpo e este, está
em atitude de suspensão.
No envolvimento deste planar fiquei em aberto,
sem nada para resolver porque de fato, ao me encontrar nesta roubada, a única
saída é respirar e assim foi feito. De nariz em pé me senti como se voltasse no
tempo, mas não para sangrar o que passou, mas sim para soprá-lo e fazer dele
folhas ao vento, pólen de flores que plana no ar, migalha de pensamento que se
evapora, partícula da névoa praiana que se dissipa, maresia que enche os pulmões
a pleno, ar da noite que refresca, brisa de outono que se anuncia e assim Deus
me ouça.
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