Estava tudo programado, como acontece em
todos os verões, a casa de praia esperando, a vizinhança a postos para tantas
reuniões quantas couberem no calendário, o mar de chocolatão para verde “caribe” de uma hora para outra, o vento se
escondendo atrás dos cômoros porque sentiu que não era bem vindo por ali e a
beira da praia lotada com quantos guarda-sóis pudesse abarcar. Tudo acompanhado
da “entourage”
que costuma existir nas praias do litoral norte. Tudo normal a não ser por um
detalhe que foge à compreensão de todo praieiro de carteirinha. O clima.
E assim se inicia o desmonte de carregar
tralha sobre tralha para a beira da praia porque o barômetro está de péssimo
humor e não deixa que a tal linha mercurial vermelha se eleve a ponto de fazer aquele
calorão senegalês que demande banho de mar. Então é aquilo: mar limpo e gelado.
Melhor voltar e molhar as papilas no refrescante trago que vai variando
conforme a preferência. Então, refresco apenas garganta abaixo, porque brincar
nas ondas do mar, somente as crianças. E talvez os velhos. Vai saber.
E é deste modo que, assim como se vai
arrastando os chinelos até a beira do mar para ter a certeza que a praia não
convida apenas refuta, que os bandos dão a meia volta ao lar-doce-lar. E a
partir de então que se inicia uma nova trajetória nos lares litorâneos por
ocasião. Esparrama-se entre os canteiros toda a sorte de traquitana que vai
encantar a petizada, desde pequenas piscinas de plástico até as maiores que
inclusive os grandões se jogam. Bom, gosto é gosto.
O fenômeno climático que atua como o grande
traidor dos veranistas, parece, às vezes, estar negociando com o comércio, seja
ele de grande ou pequeno porte. Assim qualquer picada de esquina, ambulante,
verdureiro de caminhão, vendedor de picolé, marqueteiro de bistrôs se jogam na
oferta de tudo o que se pode imaginar de consumo, muitas vezes em alto e bom
som, bem na horinha do ronco da família. Parece-me – eu juro – que no tempo de
verão a cartilha do nutricionista, do médico e do “coach” são queimadas no
carvão do churrasco, acompanhada por risadas etílicas.
E é deste jeito interessante que o povo
gaúcho se divide. Os que amam o verão para recolher da natureza toda a saúde e
bem estar que ela oferece de graça, faça chuva ou sol e a galera do pé
na jaca que aproveita a folga para ter assunto depois com seus
cuidadores.
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