segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Página em branco


Deixei-me levar docemente por tantos acontecimentos que me vi desabrigada de coerência deixando fluir para o lado de fora o que me vai por dentro, mesmo desordenadamente, o que me certifica certo alívio, porque posso buscar entre tanto, o pouco de que preciso. Comecei a pautar uma seleção primorosa que de cara me assombrou porque constava ali tanto movimento que não dizia respeito intrínseco à vida de uma maneira em geral, por este motivo resolvi ter um foco como se alienígena fosse. Com paciência verifiquei que este era o meu “status” frente ao mundo e, parecia que, ao andar por caminhos diversos não conseguia de fato encontrar a massa que me perseguia.

De qualquer forma era certo que tudo estava ali uniforme como uma rocha moldada no tempo e tão imponente como somente acontece a quem se dá muita importância. Assim, fora de mim, parecia ser de extrema relevância o que se apresentava, o que me deixou com certa resistência em separar o joio do trigo. Fiquei receosa de falsear um ou outro dado que eu resolvesse descartar e ele se mostrasse útil mais adiante. É assim que acontece com os acumuladores, mas eu decididamente, nunca fui confessa dessa forma de viver. Muito pelo contrário, e assim me encorajei.

Apurei o olho da alma para enxergar melhor, para verificar com um mínimo de isenção e boa vontade o que parecia estar demais no meu entorno e que, até agora, eu não me dava ao luxo de perceber, sendo surpreendida com tanto desconhecimento do que me persegue às escondidas e de tudo o que se enfileira na minha retaguarda.

Com muita cautela resolvi ir desmontando o aparente quebra-cabeça e, ao invés de procurar encaixar as peças eu as fui descartando como se irrelevantes fossem, apesar da empáfia em parecer importante ao modo delas. Comecei devagar a limpeza e cheguei aonde eu queria. Uma mente aberta e sem perseguidores, pronta para todo novo dia que sempre se abre, generosamente, para mim, como uma página em branco.

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