Não tinha jeito de minha mente apagar a
imagem daquela casa na beira do mar que simplesmente aconteceu na minha frente
em um dia destes, ao me perder por vontade própria, andando por aí e entrando
em tudo que é buraco de rua para ver se encontro o retrato que figura dentro da
minha cabeça. A foto não mostra tudo o que a casa é, mas sim a força dela em
mim e então, um mundo paralelo de possibilidades aterrissa em minha frente a
começar pelo potencial do arrabalde.
Mais do que olhar para a habitação, aconteceu
de me perder em devaneios quando percebi que a dita encostava seu jardim muito estreitamente
junto a praia em frente, ao lado de um sinuoso caminho agreste, sombreado por
cômoros e pinheiros nativos, conferindo ao beco um sentido absolutamente irreal
e misterioso. Este caminho parecia ser a saída do lugar ou apenas uma trilha
para alcançar a vizinhança e escancarou-me histórias dos viventes daquele lugar
escondido, sem que eu pudesse conter minha imaginação.
Desviei a atenção novamente para olhar com
mais vagar a construção e o que ela parecia me gritar a plenos pulmões com sua aparência
um pouco abandonada, com certo descaso em todo o terreno construído e, claro,
vazia de seus donos, pelo menos no momento em que eu me apoderei do imóvel como
se dona fosse.
E assim, a cada pedaço daquela paisagem por
onde meu olhar vagava, acontecia dentro de mim o quadro perfeito como se eu
tivesse o talento de transformar cada recanto sem vida em um lugar diferente. Talvez
eu tenha pensado que pelo motivo simples de quem viver nesta casa, ao acordar
todos os dias, se encontra com os pés na areia e em seguida nas ondas do quebra
mar, podendo se arremessar com alguma ou nenhuma veste, com a mente vazia da
noite que se foi, com os olhos fechados e cabelos enredados portando apenas o
confronto com a natureza, inclusive se confundindo com ela.
De repente, caí de pronto destes pensamentos
idílicos e passei a ter uma imaginação mais comedida, parecendo que eu havia
escorregado do meu prumo, que havia me excedido um pouco no deslumbramento do
desconhecido.
Então lembrei que o tempo para o lado de cá não é exatamente um amor sem fim, porque a região não tem esta personalidade sonhadora uma vez que anda sempre em arrufos com o vento, com a chuva, com raios e trovões e, claro, com dias calmos e praianos. Dei meia volta, mas pensei: quem sabe um dia.
Então lembrei que o tempo para o lado de cá não é exatamente um amor sem fim, porque a região não tem esta personalidade sonhadora uma vez que anda sempre em arrufos com o vento, com a chuva, com raios e trovões e, claro, com dias calmos e praianos. Dei meia volta, mas pensei: quem sabe um dia.
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