sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Um sonho


Não tinha jeito de minha mente apagar a imagem daquela casa na beira do mar que simplesmente aconteceu na minha frente em um dia destes, ao me perder por vontade própria, andando por aí e entrando em tudo que é buraco de rua para ver se encontro o retrato que figura dentro da minha cabeça. A foto não mostra tudo o que a casa é, mas sim a força dela em mim e então, um mundo paralelo de possibilidades aterrissa em minha frente a começar pelo potencial do arrabalde.

Mais do que olhar para a habitação, aconteceu de me perder em devaneios quando percebi que a dita encostava seu jardim muito estreitamente junto a praia em frente, ao lado de um sinuoso caminho agreste, sombreado por cômoros e pinheiros nativos, conferindo ao beco um sentido absolutamente irreal e misterioso. Este caminho parecia ser a saída do lugar ou apenas uma trilha para alcançar a vizinhança e escancarou-me histórias dos viventes daquele lugar escondido, sem que eu pudesse conter minha imaginação.

Desviei a atenção novamente para olhar com mais vagar a construção e o que ela parecia me gritar a plenos pulmões com sua aparência um pouco abandonada, com certo descaso em todo o terreno construído e, claro, vazia de seus donos, pelo menos no momento em que eu me apoderei do imóvel como se dona fosse. 

E assim, a cada pedaço daquela paisagem por onde meu olhar vagava, acontecia dentro de mim o quadro perfeito como se eu tivesse o talento de transformar cada recanto sem vida em um lugar diferente. Talvez eu tenha pensado que pelo motivo simples de quem viver nesta casa, ao acordar todos os dias, se encontra com os pés na areia e em seguida nas ondas do quebra mar, podendo se arremessar com alguma ou nenhuma veste, com a mente vazia da noite que se foi, com os olhos fechados e cabelos enredados portando apenas o confronto com a natureza, inclusive se confundindo com ela.

De repente, caí de pronto destes pensamentos idílicos e passei a ter uma imaginação mais comedida, parecendo que eu havia escorregado do meu prumo, que havia me excedido um pouco no deslumbramento do desconhecido. 

Então lembrei que o tempo para o lado de cá não é exatamente um amor sem fim, porque a região não tem esta personalidade sonhadora uma vez que anda sempre em arrufos com o vento, com a chuva, com raios e trovões e, claro, com dias calmos e praianos. Dei meia volta, mas pensei: quem sabe um dia.

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