A onipotência de viver com uma faca no
pescoço com um fio afiado querendo dizer que temos que decidir tudo e
rapidamente, sem muito pensar, sem muito indagar os porquês, porque o “coach”
de vida está ai gritando a plenos pulmões que nossa história tem que ser
escrita cheia de pontuação, precisa ser dominada, temos que ter as rédeas do
destino, seguir a vereda com determinação e foco. Não é permitido mudar, fazer
outra coisa, esbravejar.
Agora a praxe do infeliz profissional é
completar todos os passos para chegar no topo, ser funcionário padrão, focar na
excelência e subir para sempre, sem olhar para os lados e muito menos para
trás. Não é possível deixar-se manipular pela vida sendo um pecado mortal
deixar que as coisas andem com mais leveza.
Veio-me á lembrança os meus sete anos, quando
comecei a ir para escola – naquele tempo frequentava-se a escola somente
aos sete anos – até lá, se brincava de boneca e vadiava-se o resto da
tarde. Era inverno rigoroso, minha mãe me acordava invariavelmente de manhã bem
cedo entrando no quarto e abrindo as janelas com furor dizendo que o dia estava
lindo e que tínhamos que aproveitar. Não importava se chovia ou fazia sol, o
discurso era sempre o mesmo.
Eu sentava na cama muito amuada e
completamente muda o que obrigava minha mãe a me erguer, levantar um braço e
depois o outro me vestindo com vagar, me livrando do meu quentinho pijama de
pelúcia um pouco roto já. Assim eu envergava o austero uniforme do colégio de
freiras mas permanecia muito calada e, deliciada, me deixava comandar.
Depois de vestida a babá tomava conta de me
ajudar na higiene, penteando meus cabelos rebeldes e amarrando em um lindo rabo
de cavalo. Aquele ritual me encantava e assim eu saboreava cada minuto sem ter
de tomar nenhuma decisão. Fico nostálgica ao pensar naquele tempo em que se era
preparada de um jeito amoroso para viver o dia.
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