Pensei por um momento haver ressurgido de
algum lugar em que houvera sido escondida, porque defrontei no espelho duas, que,
contrastadas, seriam de certa forma ambivalentes, como se ali não houvesse uma
divisão que não se possa entender quais seriam. O certo é que com um olhar atravessado,
disforme e límpido, surge certa dualidade do foco que se perde na paisagem
longínqua, que se estica procurando nada, que reflete o pensamento
desperdiçado, que se contradiz em tantos rostos na busca incessante do seu
próprio e definitivo.
A vista que ora se impõe é certeira, porque
tem o filtro da vida liquida a transparência do vidro, material frágil que
constitui dureza e transparência que fragiliza e multiplica a imagem de maneira
desconcertante, fazendo com que a figura role pelo mundo sem nenhum avatar
que o proteja dos demais e muito menos de si mesmo.
A cada anoitecer, esta face transmite figuras
irreverentes que sugerem cores várias, que se perfuma de irreais fragrâncias, que
se embroma junto à noite como se fosse uma ilusão derradeira, que busca socorro
na escuridão do céu, nos incensos, nos lábios fechados porque graça não
encontra ou vai ver que o riso se foi para não voltar. Ali existe o olhar
preciso que amortece a tristeza da alma, que sugere redenção ao noturno
circundante, que agradece o afloramento de múltiplas escolhas não deixando
duvidas que este retrovisor acuse uma variedade de opções para espelhar-se.
Seguir os ritos da imagem deixa entrever que de certa forma tudo faz parte de
uma quimera, de um modo de renascer diferente, quem sabe seja apenas retrato do
que é, do que se propõe, de se alternar em tantas ou tão poucas.
A realidade se acomoda em um patamar
inalcançável para assim se esvair nas imagens que ora são fluídas e que
transcendem a própria alma com este olhar duplo, envidraçado que ora denuncia,
ora rende. Fica de pronto sob suspeição de transmudar como o retrato de um
intimo.
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