A costa bordeja por tantos lugares quantos a
geografia lhe assoma, não sem antes ter lhe marcado como sendo uma faixa tão
extensa que os olhos não alcançam em nenhum ponto. Quase sempre amanhece
brumosa demonstrando certa preguiça em acordar para o mundo que às vezes está
mais populoso e em outras, deserto. Mas ao mar não lhe traz a menor preocupação
se vai ser um dia repleto de banhistas, cuida, isso, sim, de brincar com suas
águas que estão à mercê dos ventos e vai daí que revolve suas profundidades ao
seu bel prazer fazendo história a cada amanhecer. E o povo então vai lidando
com as águas turvas, as nem tanto, as raras cristalinas, as mães d’água nas
também raras águas mais quentes.
E é de praxe em suas beiradas baixar o olho
em suas ondas parecendo a cor do chocolate preto e branco com sua crista em
espuma alva e seu dorso escuro, disfarçando na brincadeira para quem pensa em
se banhar e se vê surpreendido. É esta população que se joga às cegas no veraneio
sem perceber nenhum detalhe que torna esta costa tão única, tão surpreendente e
zombeteira.
E assim a gauchada começa a trilhar desde
cedo do dia as calçadas dos vilarejos praianos do sul do Brasil, arrastando
suas havaianas, puxando seus mequetrefes, levando no ombro a indefectível
sacola térmica com a “ceva”, a criançada, os idosos, a cachorrada, o lanche, a
toalha e o chimarrão. Ah, o amargo que dança em todas as bocas, que ferve a
cabeça embaixo do sol serve para demonstrar o quanto este povo é guerreiro. Este
quadro compõe o veranista gaúcho que, diga-se de passagem, responde muito bem a
todos os desafios deste litoral norte.
E então se acomodam a bancada familiar à
beira do mar, que por coincidência no dia de hoje refletem em suas areias uma
fuligem que se foram ao mar após grande incêndio nas matas da redondeza. E não
para por ai as inusitadas situações que o esmerado veranista aprende a usufruir
como, por exemplo, o vento nordestão que arranca as cangas, os guarda-sóis, a
erva do chimarrão, o chapéu da velharada, mas de certo não tira a paciência do
dito cujo. O mar? ora, maravilhoso, mesmo modorrento, cheirando a algas,
revoltoso, buraquento, gelado, com águas-vivas, com sinal de morte se entrar. Nada,
mas nada mesmo o impedirá de sentar-se às margens deste indomável oceano
sulista e aproveitar.
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