Ficar de cara com estes dois instrumentos que
reza a lenda servem para segurar a vida no fundo de aquíferos, uns mais
poderosos outros menos, não tem outra serventia a não ser voltar atrás para
pensar nos tantos mares navegados e grandezas em que as âncoras foram lançadas,
e por ali ficaram enterradas, sem a menor chance de serem içadas para seguir a
navegação da vida, cruzar águas doces, salobras, salgadas, tormentosas ou
calmas, quem vai saber.
Trazê-las à tona estabelece uma interlocução no
tombadilho da rotina e assim urge raspar com impertinência sua cracas. Limar
suas partes podres, alisar a textura que aparece desregrada e que somente
existiu para lhe suportar, para segurar seus caminhos em um canto escolhido ou
não. Talvez haja vida grudada ali e sequer insuspeita, sendo um pouco difícil
livrar-se desta história que ficou submersa e calada, mas andando a par e par.
Encostadas no muro de pedra se encontram
cruzadas levemente uma na outra, com as correntes lhe enlaçando com aparente
leviandade, deixando escorrer por entre as pedras uma ferrugem, que sem ter
muito para onde ir, se grudou ali, deixando o local com um toque visceral, uma
vez que ressurgiu das profundezas. De repente, parece que também ali se
assentam há um tempinho, pelo menos o suficiente, para derramar algumas de suas
tantas seivas acumuladas.
Pode ser até que neste período tenha
absorvido através das correntes fatos que aconteceram na vida da superfície e
que submergiram até a base, talvez por não suportar a realidade ou por não ter
mais saída para o sofrimento e a angústia. Quem sabe o peso das âncoras começou
a ser sentido não como um arrimo que é seu objetivo, mas como uma força que
obriga a estagnação, que prende os passos, que desvirtua os desejos de seguir
em frente, de renovar o cais, de atracar em outros portos ao invés de se ater a
um jeito somente de viver.
Aparentemente, estes artefatos, que servem
para estabilizar, desistiram e emergiram após verificar que os acontecimentos
no convés escorregavam por sobre as amarras, acabando com as chances de
vislumbre de um destino pensado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário