domingo, 12 de fevereiro de 2017

Verdades e mentiras


Em um abrir e fechar de olhos todas as falas se fizeram ouvir, e de tanto alarido a escuta restou impossível, mas para ouvidos mais afinados com o que se conta, o que acontece e no que se acredita, a proposta de entendimento se embaralhou de tal forma que não persiste nenhum olho, língua e pensamento que se coordene por entre tantos.  A fauna das ideias se instala semelhante a uma floresta que diversa e abundante acolhe todos os seres, mesmo os de menor douro e oriundos da selva que ora se emaranha com certezas, ora se desmantela em dúvidas.

E é com um anúncio de assuntos que a verborreia corre solta, batendo de boca em boca, azedando a saliva, testando a paciência de uns e outros, cansando de modo interminável quem se achegou por ali por desaviso ou com boa intenção, e, neste rosário de contas enlaçadas, porém sem vínculo, as verdades vão se conjugando. Mas, o verbo idílico conjuga verdades e mentiras com certa incapacidade de conter tudo o que aflora e assim vai se formando uma reza pagã,  rica em metáforas, aforismos e absurdos que vão alimentando a falácia.

Um tom com certo jeito surdo vai abrangendo a conversa de um modo bem peculiar como se fosse jogado magicamente um pó de bruma seca empanando o que deveria ser às claras. Mas ali, já se viu que tudo e, o que parece, não é.

Sempre acontece quando menos se espera, quando a lorota é lançada e mil vozes a abraçam com ferrenha fé, o conluio confere o selo da verdade absoluta e assim, nestes descaminhos vão se desdobrando os rosários que agora um pouco desacorçoados vão separando conta por conta, espalhando agora uma multiplicidade de finais de conversa.

E com certa timidez vai-se catando aquelas pérolas que rolaram do cordão como sem proveito, assim como se na confusão ninguém lhe houvesse prestado atenção, como se verdade não fosse, como se o provado não houvesse, o verdadeiro não existisse, e as boas intenções soçobrassem em um instante apenas. Tantos faunos na selva empedernida.

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