terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Santuário


É certo que ele vai chegar porque o calendário nunca falha, e seu cheiro está sendo percebido com antecedência e se faz muito suave, o vento que o acompanha é fluído parecendo que descansa em todos os galhos de árvores por onde passa balança com suavidade os arbustos, as flores, espana a areia das calçadas com sabedoria, facilitando o trabalho das zeladorias, refresca as crinas dos cavalos que ainda andam por aqui e ali, acariciam os cachorros abandonados com muito jeito porque, estes, aumentam de população assim que a massa ignara se vai aos atropelos e o carinho lhes falta.

Outro sinal evidente é o sol que agora se afasta lentamente para um lado onde ao surgir terá cores mais suaves, vai brilhar por entre alguns telhados e galhos de árvores, vai espiar por sobre outros tantos tetos, altos e baixos, vai se esconder um pouco mais entre nuvens. O que vem por aí deve abrandar os calores da terra, as sementes ficarão mais escondidas e os bichos de estatura mínima poderão correr mais soltos, sem o fogaréu a lhe queimar as ventas. De certo que os tons terão matizes de primeira linha, todos beirando tons de sépia, amarelo cadente, verde diáfano e vermelho rubor.

Depois de a natureza perceber a sua presença, porque os ares o prenunciam, a euforia viceja para quem fica e que de certo modo nem muito alarde faz, talvez para não difundir a pratica de fazer parte de tudo na vida, mas com o tempo fazendo conta certa e não conta de cabeça. E é deste jeito um pouco “amoitado” que todos os dias o sorriso ilumina toda a feição, os olhos se abrem com muita facilidade porque as horas estão novamente sendo marcadas com exatidão, os trinados voltaram a ter seu poleiro e a noitinha se instala mansa, respeitosa e reverente com seus convidados de cotidiano.

A celebração é verdadeira quando se pode sentir que some como por encanto os olheiros de plantão, os conversadores de todos os naipes, os obrigatórios convescotes e as palavras vãs. Um santuário é um lugar onde de pouco se precisa.

Um comentário:

sofadupobre disse...

Verdade, sentimos no ar a volta do nosso, só nosso santuário!

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