Fazia um tempo que eu não tinha mais acesso à
paisagem na minha sacada porque as empanei com um lindo tecido de seda, um
pouco transparente, com algumas faces se voltando ao bege e outras mais
nevadas. Eu as coloquei ali com certa dor no coração porque nos entardeceres
desta morada praiana a luz que inunda a casa nunca tem a mesma cor sendo sempre
surpreendente. É sempre nessa hora que meu coração se aperta, meus olhos
lacrimejam de saudades de tudo, absolutamente de tudo.
E junto a estes sentimentos tenho minha boca
ensaiando sorrisos a Deus, porque não quero ser mal-agradecida por todo este
panorama em minha frente, que na verdade, não tem nada de mais, mas é único,
porque a natureza o privilegia e lhe confere de quebra um som, o barulho do
mar, que hora ruge ora se amaina, mas nunca se cala. A morada me brinda com um
estado de espirito em que os pensamentos podem se desordenar vez ou outra, porém
nunca se perdem sem que se dê a eles um destino certo, ou que se coloque o dito
cujo em algum lugar da cachola para que mais tarde se analise e se tome decisões.
Fui obrigada a tapar o cenário com esta
peneira translúcida porque em tempos de calor tudo o mais que se estabelece no
entorno fere meus olhos, aguça minha tristeza, alimenta meu desejo de solidão
me deixando um pouco inaudível a outras demandas importantes.
Com a invasão do entorno que segrega o que
estabelecido está, que bagunça a ordem natural do vilarejo, que alardeia o que
ninguém quer comprar, que aflige a passarada com ruídos sem cabimento, que
arrasta sua alegria rua afora, que se arremete como se ouvidos não tivesse, que
se comporta como se não houvesse códigos que em um entendimento comum são
óbvios.
Foi com esta finalidade que as pendurei na
minha varanda porque pelo menos na visão embaçada que o voal me proporciona,
tenho a impressão ingênua de que o exterior continua simplório. Arrisquei um
olho enviesado para meu calendário e agora já vislumbro muito próximo o dia em
que o espetáculo a mim devoto, voltará ao meu poder.
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