quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Dois cliques


São necessários dois cliques apenas para despertar o assunto que toda a noite persevera em desistir e ir para os cafundós dos judas, mas, não tem jeito, aqueles dois dispositivos são a alma de todas as manhãs, então o que se tem de fazer é seguir os passos que eles apontam. Não são poucas as dicas que se jogam para fora do dito cujo, escorregando suavemente por tudo o que lhe sustenta, lambendo de certa forma insolente o vão exíguo que separa o  pulsante da realidade humana que vespertinamente se impõe com autoridade, mesmo que nestes cliques, ela escorregue por sobre a mesa, transpasse os dedos frágeis, ignorem o despertar manso, como se não almejasse nada, como se pudesse ser sorrateira ou como se de certo ninguém lhe desse por falta.

O primeiro, o mais contemporâneo, recebe o afundamento de uma mão trêmula, resistente, que com muito medo e frio se vê obrigada a fazer o movimento que, de tão peculiar e recorrente se sente incapaz de não o executar. E vai dai que os mil pensamentos vão se atropelando e fazendo de certa forma uma analise da validade de novamente enfrentar tudo o que esta atitude vai trazer à tona em primeira mão - com muito orgulho dizem eles - todas as barbáries, os malfeitos, os escândalos, as badnews, deixando assim, bem de cantinho, tudo o que pode trazer certa luz, uma inspiração, uma dica, um alento, uma certeza de qualquer coisa ou de tudo. A fraqueza na busca do melhor neste tempo de perfídia atropela estes primeiros instantes frios, prevalecentes e sequiosos de clareza.

O segundo clique remete sempre ao antigo e a promessa que a partir deste momento quase mágico, em que o corpo físico recebe o elixir que o fará voltar ao raciocínio e se acercará de todos os movimentos cerebrais fazendo assim as pazes com a noite de terror anterior. Isto feito com certa mágoa, uma vez que se vai dormir com os anjos havendo ali uma tremenda injustiça porque se sonha com os demônios e se acorda com os perseguidores. Porém, a mágica do renascer a cada dia demonstra com unanimidade que cada vez é uma, que cada noite é única, que cada tormento é o último, que cada perseguição não se repete, que um idílio enfraquece, que a conexão cai, que o previsto se esvanece como pó de mico e que depois destes dois cliques tudo recomeça. 

Um comentário:

Eugenia disse...

Parabéns,mais uma linda crônica. Abraços

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