Dia ensolarado morno ainda e com pouco vento,
as ruas preguiçosas porque recém os bocejos da siesta desmoronavam na obrigação de abrir as portas do comercio,
nesta fase do ano em que a cidade tem a liberdade de viver sua vida própria, de
ser ela mesma, de escutar os passos dos caminhantes habituais adivinhando-lhes
seu destino. Inspirar o ar forte da maresia e abrir um sorriso só de pensar que
suas pegadas na areia da beira da praia pela manhã já se foram nas ondas e
desta feita seus pensamentos também se acomodaram. Na memória, a quietude do
lugar que certamente inspira que todas as palavras daquele dia tenham o peso
que se tenha que dar. Nem mais nem menos.
Não é chegada a hora de se afobar com mais
nada, os ponteiros do relógio se mostram muito realistas e quem sabe o desejo
de dias ainda calmos fosse tão grande que as condições das ruas e praças
passaram despercebidas. E segue então a negação de que em determinado tempo –
que não está longe – tudo mudará de figura.
Ter a ilusão que o tempo custa a passar faz
parte do destino da cidade que respira por tabela, que ri e chora em diferentes
ocasiões, que briga e se acalma no calor ou no frio, que aprova e desaprova
dependendo da proposta. Um local para viver tantas estações marcadas como é sua
natureza, pródiga na percepção dos matizes de luz, nos trinados diversos das
aves, dos ventos que embalam negócios e as chuvas que dão o tom da grama das
casas viúvas dos seus moradores. Uma cidade de tantas facetas e interesses.
A luz amarela do desconfiômetro acendeu
quando na virada da esquina a praça surge toda iluminada, suas tendas
caprichadas e abarrotadas formavam um circulo bem feito com passeio asseado. Na
sequencia, as calçadas limpas, bem varridas, mesas caprichadas com cadeiras bem
acertadas e convidativas, cardápios jogados com milimétrico capricho, flores novas
nos vasos de centro, vitrines com manequins vestidos com raro apuro e sem
definição de temperatura. Este sim foi o alerta final.
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