sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Temporada


Dia ensolarado morno ainda e com pouco vento, as ruas preguiçosas porque recém os bocejos da siesta desmoronavam na obrigação de abrir as portas do comercio, nesta fase do ano em que a cidade tem a liberdade de viver sua vida própria, de ser ela mesma, de escutar os passos dos caminhantes habituais adivinhando-lhes seu destino. Inspirar o ar forte da maresia e abrir um sorriso só de pensar que suas pegadas na areia da beira da praia pela manhã já se foram nas ondas e desta feita seus pensamentos também se acomodaram. Na memória, a quietude do lugar que certamente inspira que todas as palavras daquele dia tenham o peso que se tenha que dar. Nem mais nem menos.

Não é chegada a hora de se afobar com mais nada, os ponteiros do relógio se mostram muito realistas e quem sabe o desejo de dias ainda calmos fosse tão grande que as condições das ruas e praças passaram despercebidas. E segue então a negação de que em determinado tempo – que não está longe – tudo mudará de figura.

Ter a ilusão que o tempo custa a passar faz parte do destino da cidade que respira por tabela, que ri e chora em diferentes ocasiões, que briga e se acalma no calor ou no frio, que aprova e desaprova dependendo da proposta. Um local para viver tantas estações marcadas como é sua natureza, pródiga na percepção dos matizes de luz, nos trinados diversos das aves, dos ventos que embalam negócios e as chuvas que dão o tom da grama das casas viúvas dos seus moradores. Uma cidade de tantas facetas e interesses.

A luz amarela do desconfiômetro acendeu quando na virada da esquina a praça surge toda iluminada, suas tendas caprichadas e abarrotadas formavam um circulo bem feito com passeio asseado. Na sequencia, as calçadas limpas, bem varridas, mesas caprichadas com cadeiras bem acertadas e convidativas, cardápios jogados com milimétrico capricho, flores novas nos vasos de centro, vitrines com manequins vestidos com raro apuro e sem definição de temperatura. Este sim foi o alerta final. 

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