domingo, 11 de dezembro de 2016

Salva vidas



O mar recrudesce um pouquinho como se reverenciasse as guaritas se assentando novamente na beira da praia, para abrigar os guerreiros salva-vidas que encarapitados – literalmente – na estrutura precária, passam desde os primeiros raios de sol até os últimos, a olhar com detalhe como anda se comportando o oceano neste dia. É ali na imensidão amada de muitos que os pormenores são ditados diferentemente, no verão que anda a todo vapor.

Os avisos oceânicos se fazem bem por debaixo das águas e também enviam seu recado ao conhecedor desafiando-os, mudando de cor para impressionar e suscitar as várias explicações, se redemoinha um pouco lá, um pouco alhures, também com a intenção de conquistar estes olhares fixos durante a jornada, parecendo uma brincadeira para quem assiste.

 As areias foram evacuadas dos habitantes marítimos diários porque ao receber uma horda insana a lhes pisotear, melhor serventia é se recolher para o fundo, bem ao fundo da terra que margeia as espumas. E deste jeito ficam espiando a mudança da paisagem que reside agora no multicolorido status de veraneio.

As ondas entram no jogo do empurra e ficam sempre se combinando como se manter em alta, como baixar os flaps para desespero dos surfistas, como ter uma arrebentação instigante ao olhar dos empoleirados rapazes em guarda na faixa de areia que se alterna com suas bandeiras de avisos, que se municia de aparatos de salvaguarda para quem desafiar aquelas águas. Elas podem estar calmas e profundas, porém munidas de um sentimento de traição atávico ditado pelo clima,  disfarça por debaixo de suas espumas.

A tarefa fica mais difícil porque não é somente ao maravilhoso mar que os olhos atentos e treinados devem se dirigir. O entorno pede atenção por ser sempre caótico e sugere olhar de lince para a multidão que se enjambra ao sol, para as crianças que se arremetem ao mar sem calcular distâncias, a cachorrada mimada se solta e corre para todo lado como se não houvesse amanhã. Na contrapartida, bengalas se entrelaçam nas cangas coloridas, as pernas bambas se opõem às coxas torneadas, os abdomens tanquinho desafiam as enxundias de tantos e muitos, os pés correm atrás das bolas com e sem cor e assim outro grupo empina papagaio, joga bocha, frescobol, peteca, vôlei de praia, ginastica, corrida e o scambal.

E deste jeito animado ainda sobra um tempo para olhar para o alto, o céu azul, onde helicópteros fazem rasantes, monomotor puxa faixas de propaganda, os paraglider exibem destreza. Tantos ao alto, tantos a terra. Para bem entender esta dinâmica é sabido que estes heróis de veraneio necessitam sempre ficar em um nível acima do chão, para ver melhor....

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