Parece incrível que uma simplória e rústica
beira de praia possa esconder tantos tesouros para quem ousa olhar tudo em sua
amplitude e ter deste jeito mais conhecimento desta vida silenciosa que se
aprofunda para quem sabe prestar atenção.
Os olhos, ao se aproximarem da magnitude do
oceano se vê hipnotizado pela massa cristalina que se movimenta a partir dos
humores do vento, bailando sempre contra sua vontade, fazendo um pra lá dois
pra cá obrigatórios sendo que, quem lhe pede em dança, é seu companheiro de
vida. O vento enlaça o mar ditando o ritmo diário mantendo-o refém para todo o
sempre. E assim, sem vontade própria as águas se deixam levar docemente, de
certa forma apaixonada por este par que faz de sua existência o comando dos
oceanos.
Difícil desgrudar da vastidão misteriosa,
porém ao se desprender dali a vista, a chance de passear pela paisagem que a
natureza coloca em formação é grande e então se vai tropeçando, em um primeiro
momento, nas conchas destituídas dos seus moradores, se presenteando
humildemente, após terem sido embaladas por longo tempo pelo fundo do mar.
Elas
podem surgir como se fossem verdadeiras esculturas de tão trabalhadas sua
casca, ou ter ainda enraizadas em sua carapaça musgos recentes, mas o mais belo
é sempre o seu interior, parecendo madrepérola, ou sendo, sei lá. E deste
jeito, involuntário, vem dar os costados ao seu descobridor, pois seus inquilinos
há muito abandonaram a morada, se tornando isca de pescador.
O mar suscita tantos desejos de paz e
harmonia que fica difícil ali se deparar com o sofrimento. Não se sangra a beira
da natureza que se oferece de graça, que resfolega sem cessar todos os seus
sons, seus cheiros e que a cada dia amanhece diferente somente para passar o
recado que no amanhecer se ausentam as tragédias da vida.
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