O dia se derramava como tantos outros, mas
naquela manhã ele surgiu possuído por estranhas vibrações que fluídas se
pareciam a pequenos raios de luz que cintilavam por entre a natureza morta e a
muito viva por aqui. Havia muito brilho e percebi a ausência do vento e de sons
os mais variados. Também os pássaros em minha janela se conservaram silentes e
mesmo andando meio surda para todo o barulho do mundo, senti a falta do trinado
estridente que me acorda da delicia do sono profundo, que avisa ao meu corpo
para se mexer porque já é hora e que me faz sorrir mesmo que eu esteja
acordando em prantos.
Continuei observando este coma desta manhã,
em que aparentemente tudo parou e fiquei imaginando que pode ser que esteja
sendo dado um recado aos moradores desta galáxia que se debate entre formatos
os mais variados de viver a existência, que em sendo única tem de ser bem
escolhida. Os minutos tão preciosos para quem não tira os olhos dos marcadores
se estancam e se recusam a mover um ponteiro sequer deixando em desespero os
viciados na contagem, os rebeldes sem causa, os desafortunados em busca do
tempo perdido, os salvadores de si mesmos e os que mudam a rota a todo instante
buscando a melhor e maior biografia.
Nesta manhã inédita o vento também estancou
todas as brisas e neste feitio fica sugerido que nenhuma vela se aventure ao
mar, nenhum pólen seja distribuído com a costumeira generosidade, nenhum grão
de areia deverá acobertar os buracos dos siris, nenhuma onda se alevantará um
milímetro a mais do que já se encontra, reunindo deste jeito a natureza que
executa em larga escala matinal seu discurso mudo.
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