Pensando bem, caminhei tanto que me perdi e
ao perceber que não havia esforço na retomada veio ao meu encalço este lugar
parecendo que nunca dele sai. Parece-me que conheço cada canto da casa e assim
posso andar com os olhos vendados que em nada vou tropeçar, que todos os
objetos dispostos arrumaram-se sozinhos deixando para mim apenas a observação e
do mesmo jeito paredes parecem sair do lugar para me fazer circular livremente.
Nas ruas a impressão é que conheço todas as pessoas por quem cruzo todos os
dias e que todos os meus bons dias sempre foram dados e recebidos de volta.
A noite vai alta quando me desacomodo e busco
esfriar meus pensamentos na aragem gelada desta morada praiana, sentando-me no
melhor lugar com vista para o mar, que me espia escuro, rugindo
descompassadamente o que soa como musica para mim. O corpo vai resfriando junto
com a mente que se liquefaz tateando as cenas que parecem repetidas de outras
horas que não essa. Prolongo o momento na observação da rua deserta até
estremecer de medo e de frio. É um medo bom e o frio vem me avisar que de agora
em diante as variações terão sempre uma benção da natureza, que ora resfria o
bafão dos pensamentos obsessivos, ora o vento leva todas as pétalas para o
caminho a ser trilhado e deste jeito diáfano vou vivendo por aqui.
Que modo é esse de caminhar onde os sapatos
não gastam, as pegadas se esvaem no vento ou chuva, os caminhos se cruzam entre
presente e passado, os encontros se esfumaçam virando alegorias, as conversas
se congelam no tempo, os pontos e vírgulas somem do texto e os parágrafos se
desacomodam na pauta. As buscas de outrora se cristalizaram de tal jeito que do
nada viraram releituras obsoletas, as afirmações contundentes viraram pó, os
amores eternos morreram antes do primeiro round. E é deste jeito que meus
contornos vão se igualando a esta instalação que abriga tantos caminhos agora
se permitindo ser um só.
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