domingo, 25 de dezembro de 2016

Ombros


Bem torneados, com a pele grudada no osso como convém, cada um com seus diferenciais como manda o figurino do nosso corpo. São eles que recebem, em primeiro lugar, toda nossa desfaçatez  ao sugerir sem a menor vergonha que ele se comprometa de carregar os sentimentos, os mais diversos, para dizer o mínimo. Como eles não podem sair do lugar, esbravejar através de gestos extemporâneos, aquiescem se tornando assim as duas pontas do esqueleto que se contorce como sendo nossos arrabaldes.

São dois arrimos que deliberam a eficácia de nos sentirmos melhor ou pior a cada amanhecer, se curvando nos agradecimentos e reverenciando o que vier pela frente, erguendo-se em lanças para possibilitar uma vista mais ampla, se comprimindo entre si para acompanhar momentos de dor, se afastando para abrir o peito e deixar ir o ar que se arrevesa emparedado. Permitem-se ser arrogantes na tentativa de demonstrar quem tem razão e o embate se faz na mudez da sua existência que pouco se expressa, mas muito carrega.

Os ombros femininos se arredondam em seu feitio se exibindo sem pudor nas instâncias das vestimentas, se aprumando e seguindo o falsear de todos os gestos estudados para atrair a quem se apresenta aos arredores de si. Por sua natureza são delicados, dançam no ritmo de todo corpo, se esgarçam na expansão da felicidade e se vergam quando o desgosto se apresenta. São delicados, mas ao mesmo tempo fortes sendo os últimos a decair enquanto de pé se encontra o corpo.

Os ombros masculinos nasceram para marcar o território e com sua conformação atrevida por natureza gosta mesmo é de exprimir sua autoridade e sua força, estabelecendo em detalhes os limites com a musculatura que, quanto mais aparente mais encanta ou mete medo. Vai dai que este cabide masculino não se encurva como touceira de bambuzal, não se arroja em prantos, não se digna a se alevantar mais do que necessário. Mais interessante imaginar que estes ombros em sendo varões se tornam com facilidade um trespasse forte que une duas pontas altaneiras. Bom de pensar que passar em anos à frente tenhamos ombros sempre perfeitos com uma feição segura e uma altivez que nunca surpreende. 

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