Chegar ali, na casa de praia, sempre sugere o
aprofundamento de um sentimento quase infantil que vai se somando a outras
sensações quando se inicia a abrir portas e janelas do lugar que é sempre muito
especial para todas as famílias. Praianas da gema ou não. É ali que ocorrem
todos e tantos encontros, é neste lugar que acontece o convescote anual da
vizinhança e desde jeito se parte para comemorações sem fim. Os espaços
respiram lazer, descanso, mente aberta e olhares que em todo momento vão buscar
em alto mar um pensamento, um alento, uma palavra, uma poesia tosca, refluindo
tudo o que foi arrematado para dentro de si. Flutua-se em puro descompromisso.
Estes lares residentes ou de passagem tem
apego intenso com o mar que está ali sempre à disposição e quando acontece
algum evento climático, como um ciclone extratropical, vem demonstrar a força
que ele tem e que nos passa despercebida no dia a dia. E assim o vento tão
necessário para transportar sementes para muitos recantos terem uma florada
distinta, podem também chegar com violência duvidosa a mando da natureza. E
assim, com toda inocência, vê-se um adorável oceano movido pelo vento
desgovernado se elevar em ondas gigantes, não aquelas perfeitas para o surf,
mas sim, impulsivas, parecendo destinadas a cumprir uma missão do clima, que
neste dia disse que tinha no alforje um discurso que não estava romanticamente
engarrafado e jogado nas areias da praia.
As pessoas se achegaram o quanto puderam
frente ao mar e atônitas presenciaram a natureza aumentando o tom de sua fala,
arrastando consigo casas inteiras, atravessando o passeio público, se alargando
rua afora como se fosse comum e original sua passagem por este caminho, ou como
se fosse bater na porta de um vizinho para pedir uma xicara de açúcar, de tal
jeito íntimo e decidido que se adentrou nas várias ruas de muitos bairros.
Foi deste jeito que o clima, que possui uma
alma encantadora provendo a natureza com todas as suas milagrosas erupções, ao
invés de encantar seus adoradores os fez correr para salvar alguns pertences,
os fez acelerar para não ser tragado pelas águas irreprimíveis. Sem reação, mil
olhares se firmaram no desmoronamento sôfrego das dunas, das calçadas e dos
seus negócios tornando o episódio quase inacreditável.
Na vida de tantos uma reação atávica junto ao
desastre. Assim como o mar voltou ao seu curso, estes moradores buscam dentro
de si toda a alegria que estas praias os proveram, durante tantos anos, e,
deste jeito assim, bem simplório, decidem não se dar por vencidos.
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