Passo por ela todos os dias e sempre um
abano, um sorriso e uma frase acompanha este breve encontro. Uma nos pedais da
bike e outra nas pegadas do asfalto. As frases são sempre as mesmas até que um
dia ela me perguntou “será que vai chover?”, tive que rir porque esta
intervenção me levou para outro lado, quando se está diante de pessoa ou
pessoas em que o assunto falta, então a célebre frase sai de supetão, porque,
por qualquer motivo, o silêncio fica insuportável. Talvez tenha sido esta
intenção da minha amiga de passagem, que, pega de surpresa sem a frase peculiar
na ponta da língua lhe veio à cabeça esta pergunta. Mas, acredito que palavras
soltas ao vento e sem muita conexão são pura alegria para quem fica variando o
tempo todo entre falar e aquietar.
Prefiro pensar que um silêncio constrangedor
vem sempre em boa hora para podermos olhar em volta e fazer perguntas mudas no
anseio de que nunca serão respondidas. Fechar a boca para não aventar a
obviedade mundana, dirigir o vocábulo ao universo que tudo acolhe, mas também
separa. Treinar o ouvido para o que vale a pena, refazer os caminhos da
conversa pobre que parece surgir para alertar o clamor do fundo da mente.
Qualificar o que é raro, espontâneo e tímido.
Pensamentos em desordem floreiam um cabedal
de informações e acabam surgindo intempestivamente na oralidade solitária que
se coloca hoje por onde se anda. Não há mais espaço para calar a enxurrada que
se debate internamente em conexões de muitos megas, captando significados e
desfazendo sentidos.
Uma mente aquietada, talvez um pouco lúgubre,
dá sentido ao pueril, ao inefável e de pouco alcance, por parecer não ter
acuidade de se importar com o que parece ser irrelevante. Para muitos não é
factível escutar seus próprios pensamentos se jogando de qualquer forma em
colóquios míseros em que até o tom de voz se desintegra, solapando a
oportunidade de ser importante em uma vã retórica que sacrifica a oralidade.
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