Eram muitos por ali, muitos mais do que se
podia contar ou imaginar. Nem em sonhos, ou talvez, sim. Aquele espaço de tempo
recém havia dado seus primeiros passos e já demonstrava certo fraquejar e o
primeiro sinal não foi nenhum plim, mas o contraponto do coração que já havia
se aquietado, andava meio solto, folgado, zombando a toa, num batibum gostoso, mas,
de repente, fechou-se em copas e se preparou. A alma em recuperação seguiu o
compasso do adjunto e amornou quieta.
E foi assim nesta rebatida que foram
aparecendo um a um em fileira ergométrica e alinhada, todos os pontos sedentos
por serem liquidados, por assim dizer. O reclame era a demora de se pronunciar,
de se fazer entender na lonjura do caos, no bem bom do silêncio, na perfeita
percepção do eu solitário. Parecia uma nobre sessão de revoltados querendo um
lugar no espaço recém-conquistado e negociavam, aparentemente, uma licença
prêmio, um auxílio-doença ou alternativa sórdida. Uma revanche de tantos contra
nenhum. Aparentemente chegaram todos de uma só vez a gritar, sem respeitar
horas cabíveis, simplesmente se achegando e iniciando a demandada confusão.
O primeiro carregava um saco vazio e era com
muita tristeza que buscava algum conteúdo ali dentro e não encontrava. Abanava
a cabeça desolado, olhava para os lados em busca de algo, se voltava para
frente e para trás como que examinando se havia perdido alguma coisa. O alforje
pendia-lhe do braço sem vida e assim ficou até que foi abandonado na via
escura, como se naquele saco não coubesse mais nada. A cena em perspectiva
poderia ser de um descarte comum e sem serventia, porém, olhando bem, se
percebe que o que sumiu da vista do enjeitado eram as situações postadas do
avesso e que se dissiparam porque o arrasto não fazia mais sentido.
O segundo estava ainda mais encanzinado e não
tinha nada nas mãos, as pernas finas cambaleantes se perdiam por entre o
populacho sem conseguir encontrar quem lhe desse um apoio, ou sequer lhe
pusesse os olhos. O traste parecia uma vara fina, um caniço velho, carcomido e
vergado sobre si deixando à mostra os nódulos encalacrados e os fiapos que se
rompiam ao menor encosto de mão. Do nada sumiu do alvoroço dando a pinta de que
desta feita se fora para sempre um ou muitos dos seus algozes.
O terceiro apareceu cheio de marra margeando
a propensão para ser voraz espreitando na reserva com intuito de dar seu ar da
graça. Seguia firme por entre os poucos que restaram porque achava ele que desta
feita estaria tudo dominado. Achava-se
insuspeito e com seu perfil dominador entrou de sola no encontro inusitado
fazendo um perfil enganador como era sempre do seu feitio. Mas, o pobre não
contava naquele momento que a área estava limpa, que não restava um vivente
sequer para que ele pudesse alardear sua empáfia. Assim, como os outros, sua imagem
se liquefez no ar como se nunca nada tivesse ocorrido naquela noitada.
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