quarta-feira, 31 de agosto de 2016

As ruas


Caminhei a esmo para ter certeza que eu agora podia me permitir a fazer isso sempre que quisesse, uma vez que resolvi o meu destino de forma mais condizente com o meu avançar no mundo, na vida, no sofrimento, na alegria, nos anos enfim. E assim eu fui encontrando tudo um pouco igual ou parecido somente com outras cores, outros cheiros e matizes.

Naquele espaço onde todas as ferramentas para tornar uma pessoa mais asseada, mais bonita fisicamente, atraente e com seus pontos fortes valorizados, pareciam mesmo o templo do belo. Ali não havia espaço para o não tratado, o desfeito, o inadequado e acompanhando o perfil do negócio a conversa anda na perfeição com um conhecimento detalhado das clientes. O entra e sai é dinâmico e o dia parece ser bem movimentado. Entrar de um jeito e sair de outro, com a aparência em pratos limpos, é o que promete o salão. E cumpre.

Sigo a rua aonde vou encontrando lojas mais inusitadas e dou de cara com uma vitrine imensa com exposição farta de objetos de enfeites femininos que são vendidos por um único preço, qualquer coisa, maiores e menores. Reflete uma cobiça de aquisição que nem posso imaginar, afinal, os objetos, sejam de que natureza for, tem o seu valor marcado como uma peça, mas para cada comprador ele tem um preço mais particular, para mais ou para menos ou até quem sabe, não tem preço. Os olhos brilham e vagam de peça em peça, excitadíssimos ao perceber a oportunidade de adquirir tanto, tão variado, por tão pouco.

Não contente com esta surpresa, encontro outra loja com uma portinhola semiaberta e placas na calçada sinalizando que ali é o lugar onde as roupas custam muito pouco, para homens, mulheres e crianças. Ao dar uma espiada conferi que qualquer pessoa pode entrar nua no estabelecimento e sair vestido e quentinho, se for frio, ou serelepe e leve como uma brisa se for verão. Isto tudo por um punhado de moedas.


Continuo a caminhada cujo compromisso mora na observação, no fortuito desejo de encontrar o que ninguém vê, de perceber o mistério do comercio de rua que existe com espaços vizinhos um do outro, separados apenas por uma parede de tijolos, por perfis de compra e venda diferentes, mas que possuem a única vertente cobiçada que transita com ou sem propósito, pelos passeios bem cuidados. Que sorte. O varejo dá vida às ruas, enriquece os relacionamentos, deixam calçadas varridas, ruas repletas de carros, de gente,  e um entre e sai que dá gosto de ver.

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