O desafio desta época é ver
aquele banco de praça lotado, destoando do ambiente normal do ano, onde o que
mais tem vida são as ondas do mar, a cachorrada de rua engalfinhada, a areia
correndo solta com ventos do norte e as garças perdidas pelo lado de cá,
provavelmente aliviadas da superpopulação que impera em tempos de calor.
Eu o tenho sempre na mira e
ouço todas as suas histórias com olho no olho quando ele está vazio, uma vez
que nossa fala é a única por estes lados. Ele não pranteia a falta de
companhia, não se irrita com os passarinhos pousando em si nem com os galhos de
árvores que lhe vem por cima. Não se sente inútil por ficar tanto tempo sem que
ninguém ali se sente para o descanso, não se verga quando o vento bate forte e
não se importa quando a chuva vem lhe açoitar. Passa seu tempo sempre como
novo. Inabalável.
Temos muito em comum eu e
ele, a começar o gosto pelo silêncio, pelo desejo de solidão imponderável, pelo
acolhimento de todas as falas mesmo as mais rudes não conseguindo de nenhum
modo revidar e pela situação contumaz de se fincar no mesmo lugar. Não gostamos
de partir, porém há sempre àquela hora em que ele, quer apodrecer e desistir de
estar ali à mercê de tudo e de todos, e eu, agonizo a todo o momento porque o
trem da minha partida não me fornece a data, nem o horário e local.
Porém, nem tudo é defeito. Ambos
gostamos de ouvir conversas, as mais interessantes, as mais vulgares, as mais
inteligentes e as mais burras. Mesmo não metendo o bedelho no assunto ouvido
temos a certeza que esta pauta nos alimentará por alguns dias.
E é chegada a hora dele, do
banco, ela sempre vem, quando a mais variada das criaturas vem se assentar em seu
dorso e destrambelhar seus assuntos. A fauna humana se estabelece quando começa
a esquentar e a sucessão de causos compartilhados em cima dele o deixa em
lastimável estado de confusão.
É através dele que a fofoca
toma corpo, o comentário maldoso em relação à vizinhança tem vida própria, a
erva amarga e o gole etílico trocam figurinhas, a mulher de um alfineta a do
outro, o homem ignorante agride quem não conhece a mulher sem escrúpulos
inventa e maldiz.
Fico olhando de longe meu
amigo banco sempre tão bem intencionado. Assim como ele muitos dentre nós, só
que em muitas ocasiões só nos resta ser o observatório da vida em movimento.