Encontrei tantos recados
enfileirados que me causou estranheza naquele momento não ter o que dizer. De
mim sumiram todas as ideias, todas as frases e as centenas de palavras que
povoam mais a minha mente do que as largo no papel, se revoltaram e não me
deram o ar da graça. Graça esta que se expande quando encontro motivos para me
jogar ao desconhecido, para bater no ar afoitamente, para me deter e examinar
detidamente o que aparece e lavrar conteúdos, muitas vezes insólitos, negros de
significado sendo alguns travestidos de
dardos venenosos. Como erro sempre a mira, não causa dano.
E então me encontrei no
vazio, um vácuo procurado, um lugar planejado para estar, mas, em lá chegando me
dei conta que havia uma conta insana pendente que eu devia pagar. Todas as
frases feitas estavam a postos me desafiando a me espelhar nelas, dizendo com
desenvoltura para baixar a crista e não persuadir ninguém do contrário, não denunciar
as marmotas oblíquas que sem querer percebia, não dispensar nenhuma palavra
para fomentar o que sinto, pelo menos naquele momento, não me ater a momentos
sem fim e não analisar a replica criando condições de errar a mão.
A missão era árdua porque me
pedia que não tivesse opinião, que falseasse a hora, que ocultasse abertamente
e que não viesse a público mostrar uma verdade que não serve para todos. Senti
que fui proibida de ser, barrada da fala dúbia, execrada da sinceridade,
difamada por ser do contra naquele momento pelo menos.
A corrente de insanidades me
parecia volumosa demais para poder dar conta, porém ali estava o desafio e como
não sou de me acovardar com ventos contrários resolvi ir ao chão. Do fundo do
poço fui subindo pé ante pé, pisando com determinação em cada momento que ali
havia se instalado pelo clima e no final, lá estava eu a bordejar a mentira de
todos.
Assim surgi de dentro para fora, com a minha verdade em lemas assoprados
e verdadeiros. Foi neste momento que eu acordei para a necessidade de enfrentar
os demônios da causa inglória, da felicidade alardeada, da ocultação do sentir
da verdade e da proibição de ser você ou outra ou até, pasmem, plenamente.
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