sábado, 26 de abril de 2014

Rame-rame



O falatório não parava, parecendo flechadas de cupido recalcado porque quando tentava acertar um alvo apontava uma projeção que se desfazia no ar, ou, parecendo esta a hipótese mais correta, se desviava num tempo exclusivo e atingia um lugar diferente onde se encontravam duplas diversas e pessoas juntas em avessas.  

O som de todas as palavras reverberava pelo universo e como eram dissonantes na maior parte das vezes, por lá ficavam a vagar sem destino, se tornando inócuas e aumentando a tensão dos céus, irritando todos os arcanjos que queriam de fato fazer o arranjo e se ver livre da empreitada. Mas não seria desta vez e não tão fácil assim, porque o limite tolerável do rame-rame vai muito além de todas as forças contrárias e do intento.  

Incontroláveis palavras se sobrepunham umas às outras tornando as conversas às vezes, descontroladas e na busca do entendimento, derreadas.  Se unir era a intenção, o fracasso veio dar seu recado muito cedo e indignado com a falta de pudor dos gladiadores das letras ficou tentado a acabar com o discurso e a pose infame do pretenso acordo. Desta feita, ficaram sem chance de ouvir o que lhes vai ao fundo da alma e perderam a condição de serem agraciados com aquela ajuda do cupido destrambelhado, que perdeu a paciência. 

 Enfim, a vida pede destino, o dia pede atitude, a tarde pede um encontro e a noite pede romance. O arcanjo ficou triste e resolveu descartar o rame-rame que para ele era promissor. Só para ele, é claro.

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