O falatório não parava,
parecendo flechadas de cupido recalcado porque quando tentava acertar um alvo apontava
uma projeção que se desfazia no ar, ou, parecendo esta a hipótese mais correta,
se desviava num tempo exclusivo e atingia um lugar diferente onde se
encontravam duplas diversas e pessoas juntas em avessas.
O som de todas as palavras
reverberava pelo universo e como eram dissonantes na maior parte das vezes, por
lá ficavam a vagar sem destino, se tornando inócuas e aumentando a tensão dos
céus, irritando todos os arcanjos que queriam de fato fazer o arranjo e se ver
livre da empreitada. Mas não seria desta vez e não tão fácil assim, porque o
limite tolerável do rame-rame vai muito além de todas as forças contrárias e do
intento.
Incontroláveis palavras se
sobrepunham umas às outras tornando as conversas às vezes, descontroladas e na busca
do entendimento, derreadas. Se unir era
a intenção, o fracasso veio dar seu recado muito cedo e indignado com a falta
de pudor dos gladiadores das letras ficou tentado a acabar com o discurso e a
pose infame do pretenso acordo. Desta feita, ficaram sem chance de ouvir o que
lhes vai ao fundo da alma e perderam a condição de serem agraciados com aquela
ajuda do cupido destrambelhado, que perdeu a paciência.
Enfim, a vida pede destino,
o dia pede atitude, a tarde pede um encontro e a noite pede romance. O arcanjo
ficou triste e resolveu descartar o rame-rame que para ele era promissor. Só para
ele, é claro.
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