quarta-feira, 30 de abril de 2014

Pouco


Eu preciso de muito pouco para me sentir feliz e menos ainda para me sentir infeliz o que me fez então pensar em traçar algumas linhas e fazer comparativos, assim eu posso nortear os meus sentimentos de uma forma mais interessante e organizar a pouca alegria e o menor infortúnio. Não para os outros, seres etéreos, abençoados pela constante fuga de si, mas para mim. Um exercício delicado que, resoluta, vou empreitar. 

No muito pouco bom, basta-me ter de alcançar, fora da cama, aquele copo de água no meio da madrugada para me sentir abençoada e receber da noite gelada a mão que me reconduz ao sono e me faz merecedora dele. Da mesma forma o cheiro da casa de praia fechada me bafiando as narinas quando chego de surpresa transbordando de saudades de mim, me centra o espírito com um imediatismo mais poderoso do que qualquer boleta. 

Ainda posso acrescentar o vinho gelado bebido nas taças da família, a endorfina plugada nas veias por conta daquele programa de índio da turma do ciclismo, minhas meias de lã furadas e meu pijama rôto que sempre me acompanham no momento em que meu sofá me aguarda como se ele fosse uma extensão do meu esqueleto envelhecido. 

No muito pouco ruim tenho menos coisas a relatar, mas muito relevantes, como aquela furada nos olhos para não enxergar a traição, meu coração feito em picadinho de tanta espera pelo que não vêm, minhas mãos estendidas alegremente mas sendo cortadas sem piedade, a corrida para um abraço que não acontece e a percepção de que meus passos se dirigem a lugar nenhum. 

Para equilibrar esta conta que não fecha, de agora em diante só terei grandes sofrimentos, daqueles que paralisam momentaneamente, mas Deus dá a luz e a fé para seguir em frente.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Vera,


Saboreio tudo mas o " Pouco" é demais. Uma lucidez incrível, dói bastante. Bjs. Marilda

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