Eu não conseguia vislumbrar um tempo mais útil ou inútil
que se alongasse para que eu pudesse dar conta da faina histérica da vida de
hoje que urge em todos os sentidos ou, mais precisamente, ruge, como um grande
animal feroz a nos morder o calcanhar sem piedade. Então, voluntariosa,
tranquei o passo e fui espiar o entorno pé ante pé, sem fazer muita graça e
rebuliço.
Escolhi um tempo não contado em horas, mas nas emoções e
no desatino da descoberta daquela vida amordaçada que corria paralela a minha
existência real. E assim deixei que as últimas horas e dias minha mente flutuasse
por aí, sozinha e sem rumo, se engraçando com a fantasia deixando para outra
hora a volta. Se eu tivesse sorte talvez não mais voltasse a mim e perduraria
este clima translúcido que somente nós mesmos podemos nos ofertar. Diverti-me muito ao passear por caminhos novos
atraindo ao meu dia a dia resoluções pueris que me brindaram com um novo olhar
para o velho.
Com certo pudor fui desamarrando os nós que
milagrosamente se desfaziam como pó e então pude perceber a fragilidade das
ataduras e a facilidade, desta feita, de me livrar delas. A poeira se
transformou em uma densa neblina cintilante, polvilhou as situações do antes e
do depois em matizes coloridos, variando a cor conforme a cena. O passado veio
empoado de brilho e juventude, o presente se revestiu de cores vibrantes e o
futuro me aguarda com seu manto misterioso tecido com os fios da esperança e
viço do novo.
Um comentário:
Vera Lúcia:
Lindas as tuas crônicas, com as quais enxergo, muitas vezes, o meu eu interior. Em alguns momentos, encanto-me e volto no tempo; em outros, a melancolia percorre o meu espírito. Porém são sensações que alimentam a minha alma e me fazem seguir mais fortalecida.
Obrigada pelas palavras tão bem colocadas!
Quem sabe este ano possamos nos encontrar juntamente com a Sílvia. Saudade de vocês!
Bj,
Regina Simões
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