domingo, 16 de fevereiro de 2014

Tempo


Eu não conseguia vislumbrar um tempo mais útil ou inútil que se alongasse para que eu pudesse dar conta da faina histérica da vida de hoje que urge em todos os sentidos ou, mais precisamente, ruge, como um grande animal feroz a nos morder o calcanhar sem piedade. Então, voluntariosa, tranquei o passo e fui espiar o entorno pé ante pé, sem fazer muita graça e rebuliço.
Escolhi um tempo não contado em horas, mas nas emoções e no desatino da descoberta daquela vida amordaçada que corria paralela a minha existência real. E assim deixei que as últimas horas e dias minha mente flutuasse por aí, sozinha e sem rumo, se engraçando com a fantasia deixando para outra hora a volta. Se eu tivesse sorte talvez não mais voltasse a mim e perduraria este clima translúcido que somente nós mesmos podemos nos ofertar.  Diverti-me muito ao passear por caminhos novos atraindo ao meu dia a dia resoluções pueris que me brindaram com um novo olhar para o velho.

Com certo pudor fui desamarrando os nós que milagrosamente se desfaziam como pó e então pude perceber a fragilidade das ataduras e a facilidade, desta feita, de me livrar delas. A poeira se transformou em uma densa neblina cintilante, polvilhou as situações do antes e do depois em matizes coloridos, variando a cor conforme a cena. O passado veio empoado de brilho e juventude, o presente se revestiu de cores vibrantes e o futuro me aguarda com seu manto misterioso tecido com os fios da esperança e viço do novo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vera Lúcia:

Lindas as tuas crônicas, com as quais enxergo, muitas vezes, o meu eu interior. Em alguns momentos, encanto-me e volto no tempo; em outros, a melancolia percorre o meu espírito. Porém são sensações que alimentam a minha alma e me fazem seguir mais fortalecida.

Obrigada pelas palavras tão bem colocadas!

Quem sabe este ano possamos nos encontrar juntamente com a Sílvia. Saudade de vocês!

Bj,

Regina Simões

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