Meu filho aos vinte e quatro anos se formou e
aventurou-se na busca de novos ares para
viver e encontrou um clima quente, ensolarado e carente de profissionais. Por
lá ficou. Bem longe. Os filhos são da vida e, portanto, abençoei a iniciativa,
guardando numa caixinha no canto do coração a saudade e a falta que sinto dele
e que sempre aperta mais.
Vai daí, que um dia atendi alegremente o celular já
sabendo que era ele, apesar de estar entupida no trânsito. Foi quando meu filho
respondeu ao meu entusiasmo : VOVÓ
!!!!!, uma noticia dada bem de acordo com seu jeito irreverente. Atravessei o
carro na rua para poder chorar à vontade e dar os merecidos parabéns pela
felicidade dos pais e agradecer pela vinda da baby.
Deste dia em diante, durante nove meses, todas minhas reuniões com clientes estavam
pautadas no mês de nascimento da minha neta sem nenhuma negociação. Chegou o
dia e lá estava eu, olhando aquela menina comprida, magrela, de grandes olhos
azuis e características emocionantes dos pais.
Acompanhar de longe uma criança crescer é instigante e
muito vai da imaginação e de ficar perguntando isso e aquilo para poder avançar
no retrato. As lembranças vão ajudando a montar os quadros do tempo passando,
uma vez que dentro de mim reverberam as ocasiões especiais de nossos encontros.
Ela adorava gibis sem nem saber ler e então, apontava quadro por quadro e eu ia
lendo para ela. Deitada sobre mim, na rede, acabava roncando em poucos minutos.
E eu também.
Chegando uma vez em minha terra, ela dormiu comigo e eu tive uma insônia abençoada lhe
observando a respiração regular, o corpo descansado e quase inerte. Mais
tranqüila ao ver que tudo corria bem, descansei um pouco para ter a alegria de
ao abrir os olhos encontrar aquela menina ao meu lado. Sempre será a maior
emoção da minha vida. Na seqüência, arroz com ovo, visita às livrarias,
teatrinho para crianças e então tive certeza: o paraíso é aqui na terra.
E a vida anda e muda e entram as conversas pelo Skype,
telefone e visitas à lonjura daquele lugar que foram permitindo ver minha neta
crescer aos saltos e acompanhar a sua fala se modificando e sua voz cada vez mais se
tornando de uma menina.
Agora ela completa 11 anos e é uma mocinha digital, nos
falamos pelo Instagram e lá vou eu me surpreendendo a cada dia com a conversa
dela, conhecendo suas amigas do peito e tudo que envolve esta idade.
Esqueci de contar que quando ela nasceu criei uma
gavetinha azul em um lugar especial da minha mente, inventando uma chave
secreta, para que nunca eu a perca de vista.
Lembrança, uma chave de ouro.
2 comentários:
Lélia escreveu: "Bonita crônica, mais bonita é a Pietra. Parabéns, querida vovó Verinha
A praia te faz muito bem, escreves com tanta clareza e emoção.
Adorei Pietra e te vi avó.
Beijos e boa semana, Carmen.
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