Corri
de fora a fora para ver se encontrava algo que me fizesse ficar, algum sinal
expressivo de que valia à pena continuar por ali. Dissequei as gavetas há tanto
tempo fechadas que até as traças se espantaram e largaram fora rapidinho.
Ansiosa, escarafunchei as pastas que encontrei
assim como foram revistas todas as fotografias amareladas e os retratos em
moldura expostos, rapidamente, tiveram uma nova feição na
prateleira.
Joguei-me
dentro dos armários, visualizando todas as roupas e me coloquei dentro delas
para ver se fazia sentido elas estarem ali à minha espera. Rolei por debaixo da
cama parando na mureta de onde podia ver a cidade que dormia e,
mesmo com este raro silêncio da urbe, não encontrei a razão.
Na louca busca, entre um andar e outro,
encontrei fantasmas que me assombravam, porém, corajosamente,
relevei sua importância e acabei percorrendo cada cômodo, silenciosamente,
reverenciando as lembranças que eu ainda podia ter como um recurso
para sobreviver.
Em
algumas paredes surpreendi marcas provenientes das colagens de tempos
antigos porque nunca permiti que os obreiros as retirassem
completamente. Mudo a cor, mas as rupturas no cimento balizam um tempo em que
ali se cravavam bilhetes carinhosos do dia a dia e que, agora, diante dos meus
olhos, figuram como pretextos aos quais reluto em me render.
Está difícil se encantar por estes caminhos que se
apropriaram de mim e da minha vida, e, por este
motivo, continuo na busca de evidências que me auxiliem na escolha
de ficar ou ir embora, sem me dar por vencida.
Pendurada,
me vejo morta de paixão na perseguição do meu eu.
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