domingo, 13 de novembro de 2011

Lambança



A lambança, termo bem antigóide que relembra lavação de roupa suja e que muita vezes é – ou era – usada para cornetear desavenças políticas tem tido uma versão que eu chamaria “da hora”. O e-mail.

Bela ferramenta essa que nos aprisiona em uma cadeira com os olhos cravados na tela, dedos fincados no teclado jorrando freneticamente o conteúdo que ao ser enviado não tem volta. Sem arrependimentos, portanto.

A ferramenta de comunicação que nos une a muitos e poucos, dependendo de como nos comportamos com ela, é uma arma poderosa de lambança porque a palavra escrita é lida e interpretada de maneira única e singular por cada um de nós.

Então veja lá com que vírgulas vais separar tuas idéias e que sina vais dar a pontuação que divide tuas frases. Não vá apartar o certo do errado nem acrescentar algum assunto mal visto que poderá levantar suspeita, porque a suspeita é a amiga íntima da paranóia que derruba amizades, grupos e comunidades.

A comunicação deveria servir para aproximar pessoas, porém, se nem a conversa o faz, imagine palavras digitadas em maus momentos quando a tela recebe letrinhas enredadas umas nas outras sem reclamar da agitação.

E lá vem o receptor da mensagem com a cabeça virada ler o que lhe chegou.

Justo naquela hora que estava relaxado e contente, feliz e agradecido pelo dia findo, lhe chega de sopetão: a cobrança da conta esquecida no fundo da gaveta, a doença de um amigo querido, uma reunião bem chata na sexta-feira, a previsão de chuva no feriadão, um aviso de banco que é vírus, uma citação do Serasa impossível, uma sugestão de namoro de alguém que nem conheces, um comentário anônimo no blog.

Um vírus humano que não tem cura.

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