Eufórica abri a porta de sopetão para vasculhar
cada canto tão desejado mas fui surpreendida de frente, não com os ventos nem a
maresia, mas com um odor que me deixou nas patas de trás, volteando para lá e
cá rapidamente, me parecendo que eu não tinha saída. Mas tinha,
evidentemente.
Dei uma geral no sonho realizado composto de pedra sobre
pedra mas dali em frente meu semblante se anuviou e eu só enxergava os buracos
na parede, a tinta envelhecida, o mau trato daqui e dali, a torneira trocada as
pressas por uma tão simples, mas tão simples que me machuca a mão cada vez que
tenho de usá-la.
Continuei na empreitada investigativa de cima a baixo com meu
senso crítico exacerbado quando resolvi levantar o olhar para a paisagem eterna
que eu vislumbro daqui e fui então me derramando para fora ao invés de rastejar.
Não demorou muito para que o lugar fosse coberto de branco
exalando bons cheiros e levando embora para outro destino, que não o meu,
aqueles buracos, parafusos, frestas e paredes rescendentes de outro, com
sombras de outra vida, com cheiros de outra era.
Agora uma nova história será contada e novas marcas serão
impressas nestas paredes que haverão de se moldar ao novo personagem, como um
velho cinto de couro, que de tanto ser usado fica na feição do dono. Uma
simples lata de tinta branca.
Escrever para viver e viver para escrever. A inspiração é o meu objeto de desejo a cada amanhecer e assim minha alma fica fortalecida no encontro do silêncio e da natureza marítima. Leiam com bons olhos! Mail para contato: verarenner43@gmail.com Vera Lucia Renner
domingo, 27 de novembro de 2011
Lata de tinta
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
É lá
Nunca pensei que haveria de encontrar lugar tão perfeito, um
canto tão a minha cara e na minha mente, mesmo vazio, cheio de expectativas
encantadoras para viver. E também, morrer.
Em manhã luminosa, saboreando um café diante da paisagem, a
respiração fraca e um tanto suspensa, os braços perdem forças se alongando
junto ao corpo e, ao mesmo tempo, meu olhar enevoado se fecha para o mundo.
Quem sabe ao deitar-me com o barulho das ondas ao fundo, não
consiga nem acordar porque meus anjos, na calada da noite, vieram me avisar que
estava na hora de fazer aquela viagem com hora marcada para todos, mas nunca
sabemos quando será.
Talvez, na tardinha sentada em frente à natureza, sorvendo um
vinho, eu feche os olhos para a apreciar o momento, e não os abra mais.
Poderá ser também um momento criativo, com meus dedos batendo
vigorosamente as teclas do meu computador quando, num repente de sono tardio e
estranho, me deixo encostar a cabeça nos braços, e, na seqüência, não mais a
levante.
A poltrona da leitura poderá ser a última testemunha. Ao
abraçar meu corpo cansado, resolve que seria esta hora, a derradeira. Docemente
caio num sono profundo e me vou para o outro lado.
Todos os delírios de uma partida serena.
Que Deus me ouça.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Apimentada
Pequena e rechonchuda a menina sardenta com um
“bucles” na ponta da cabeça, cachos vermelhos lhe emoldurando o rosto e uma
teia de sardas da cor ferrugem tatuando o corpo, gostava de ser independente se
aventurando bem cedo em longas caminhadas, sozinha e determinada, coisa
inusitada para uma criança.
Às vezes um pouco séria demais para a idade, dava a impressão
que havia um tormento escondido e desajeitado sem concessão da vida para
aflorar, ou quem sabe, uma decisão interna desafortunada que por vezes lhe
sombreava o semblante. A verdade é que aquela criança salpicada tinha pressa e
urgência norteando com alarido os acontecimentos. Apimentada em suas relações
de afeto, tinha enorme facilidade de animar e reunir gente ao seu redor, sendo
fiel aos amigos uma vida inteira
Em criança, o divertimento era escolher as cores que
“combinavam” com aquele estilo “foguinho” para deixá-la sempre mais e mais
linda sem perder o estilo apimentado da personalidade que a caracterizou tão
bem na sua trajetória pela vida.
A garota ferrugem aceita o convite do anjo que lhe bate a porta, mesmo tendo
ainda muito do que se despedir.
domingo, 13 de novembro de 2011
Lambança
A lambança, termo bem antigóide que relembra lavação de roupa
suja e que muita vezes é – ou era – usada para cornetear desavenças políticas
tem tido uma versão que eu chamaria “da hora”. O e-mail.
Bela ferramenta essa que nos aprisiona em uma cadeira com os
olhos cravados na tela, dedos fincados no teclado jorrando freneticamente o
conteúdo que ao ser enviado não tem volta. Sem arrependimentos, portanto.
A ferramenta de comunicação que nos une a muitos e poucos,
dependendo de como nos comportamos com ela, é uma arma poderosa de lambança
porque a palavra escrita é lida e interpretada de maneira única e singular por
cada um de nós.
Então veja lá com que vírgulas vais separar tuas idéias e que
sina vais dar a pontuação que divide tuas frases. Não vá apartar o certo do
errado nem acrescentar algum assunto mal visto que poderá levantar suspeita,
porque a suspeita é a amiga íntima da paranóia que derruba amizades, grupos e
comunidades.
A comunicação deveria servir para aproximar pessoas, porém,
se nem a conversa o faz, imagine palavras digitadas em maus momentos quando a
tela recebe letrinhas enredadas umas nas outras sem reclamar da agitação.
E lá vem o receptor da mensagem com a cabeça virada ler o que lhe chegou.
Justo naquela hora que estava relaxado e contente, feliz e
agradecido pelo dia findo, lhe chega de sopetão: a cobrança da conta esquecida
no fundo da gaveta, a doença de um amigo querido, uma reunião bem chata na
sexta-feira, a previsão de chuva no feriadão, um aviso de banco que é vírus,
uma citação do Serasa impossível, uma sugestão de namoro de alguém que nem
conheces, um comentário anônimo no blog.
Um vírus humano que não tem cura.
Duas lágrimas
O dia chora mansinho se unindo a tantas e tantas outras vertentes cristalinas que brotam de olhos de todos os matizes sempre mantendo a au...

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