domingo, 27 de novembro de 2011

Lata de tinta



Eufórica abri a porta de sopetão para vasculhar cada canto tão desejado mas fui surpreendida de frente, não com os ventos nem a maresia, mas com um odor que me deixou nas patas de trás, volteando para lá e cá rapidamente, me parecendo que eu não tinha saída.

Mas tinha, evidentemente.

Dei uma geral no sonho realizado composto de pedra sobre pedra mas dali em frente meu semblante se anuviou e eu só enxergava os buracos na parede, a tinta envelhecida, o mau trato daqui e dali, a torneira trocada as pressas por uma tão simples, mas tão simples que me machuca a mão cada vez que tenho de usá-la.

Continuei na empreitada investigativa de cima a baixo com meu senso crítico exacerbado quando resolvi levantar o olhar para a paisagem eterna que eu vislumbro daqui e fui então me derramando para fora ao invés de rastejar.

Não demorou muito para que o lugar fosse coberto de branco exalando bons cheiros e levando embora para outro destino, que não o meu, aqueles buracos, parafusos, frestas e paredes rescendentes de outro, com sombras de outra vida, com cheiros de outra era.

Agora uma nova história será contada e novas marcas serão impressas nestas paredes que haverão de se moldar ao novo personagem, como um velho cinto de couro, que de tanto ser usado fica na feição do dono.

Uma simples lata de tinta branca.

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