domingo, 6 de março de 2011

Céus e terras



Com passadas cadenciadas, olhar afundado ao chão, seguia sempre do mesmo jeito, todos os dias, contorcendo seus pés nas areias macias, em alguns momentos, em outros lisa e dura como pedra. Aliviava todo o corpo tenso ao tocar este chão, diferente a cada dia enquanto o espírito nublava e arejava.

A cabeça pendia de um lado e outro, vagarosa, acompanhando o vagar insuspeito do pensamento. Os ombros fortes se negavam a seguir o ritmo do olhar se deixando ficar firmes mas parecendo inconsoláveis. Assim toda a massa física se comportava.

Seguia lento no pé ante pé, absorto, e não via nada do que acontecia ao redor. Tão inexpugnável que poderia acontecer o que fosse, que do fundo da beira da praia aquele olhar não levantava.

A visão descarada se projetava como um ímã nas profundezas do solo como se ali estivesse o seu vôo, calculado milimetricamente como tão bem fazia entre nuvens. Seu corpo no costume do vôo solo, ouvindo o silêncio azul dos céus, brincando de esconde-esconde com nuvens em polvorosa querendo se esvair em águas, absorto em sofisticação tecnológica e comandos determinantes que resolviam todos os seus caminhos.

Agora, são tatuíras que passeiam em sua frente e mariscos lhe ferem os pés. Magnetizado cada vez mais pela superfície praiana, adentra por entre caranguejos, galopa no dorso de cavalos marinhos, nada em cardumes, descansa no casco da tartaruga gigante. Se esconde de si mesmo nas algas e corais e foge das mães-d’água. Um exílio projetado que parece não ter fim.

Finalmente, ergue o olhar e diz: Oi !

Um comentário:

Mirosa disse...

Que voo subterrâneo e interior, hein!Beijos.
Maria Rosa

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