domingo, 20 de junho de 2010

Terra do nunca



Tudo tem um lado avesso. A vida, sentimentos, amores, coisas. Mesmo que não possamos desdobrá-las. Deste lado adverso, certamente não me vêm o que eu possa aproveitar. De pura má serventia não me alimenta a alma, não me conduz ao meu melhor e não me favorece no agora. Um lado contrário.

Eu vou abdicar destes movimentos antagônicos e deixar muitas, ou todas as coisas, abandonadas, trocando de fluxo para que eu possa me mover em outras aberturas. Aquela direção a qual vou sempre me encontrar e ficar por perto, no entorno, considerando a perspectiva do outro. De leve. Eu vou migrar para um lugar em que eu possa sonhar a esmo.

Há de ser por ali que ei de encontrar todas as respostas para tantas perguntas que sequer foram feitas, sugestões jamais analisadas a luz do amor, conversas não acontecidas e reais encontros com tantos desencontros. Alma dobrada à mercê de tantos ouvidos.

Não vou escutar ninguém, nem a mim mesma. Vou seguir em frente, surda e ansiosa, sem considerar nada, sem ponderar qualquer conversa, sem justificar meus sentimentos e sem esperar o que outros não têm para dar. Arribar para a terra do nunca sem companhia. Um lugar só meu


domingo, 13 de junho de 2010

Beija flor




Com mil batidas por minuto o beija flor sobrevoa nossos jardins encantando por sua ligeireza com beijos suaves em todas as flores. Um coração tão pequeno e forte num animal de tal fragilidade faz pensar em nossos corações partidos e repartidos, batendo fraco muitas vezes.


A vida do beija flor depende deste pulsar vibrante em sobrevôos solos e os mortais errantes batem cabeça na razão para viver suas emoções que de tão carregadas de considerações vão ficando para trás, atiradas ao largo, porque impossível realizar trajetos livres e soltos por entre todos. Quem vem atrás vai recolhendo cada frase mal dita jogada no caminho do entendimento que nunca se cumpriu.

A vibração que se tem nas razões inócuas, muitas vezes fracas não se fazendo entender de forma alguma. Corações grandes porém pequenos demais para a emoção que vaga pela vida saltando ora para um lado ora para outro, um pouco perdido de onde pousar. Animais humanos sem rumo que não tem em si o instinto fatal da sobrevivência em qualquer circunstância.

Não se pode encontrar o amor quando em si mesmos não tivermos a liberdade de deixar que ele nos tome conta de súbito. Como um beija flor que chega em nosso jardim na mais bela flor. O nosso coração.


sábado, 5 de junho de 2010

Mico




Estou andando a esmo com este “mico” no ombro e não consigo lembrar como ele veio aqui parar. É claro que alguém tocou em frente um problema que era de sua alçada resolver.

E, tive eu que carregá-lo, uma vez que me considero uma impulsiva incurável. Mandou, eu vou. Pediu, eu faço.

Será que veio do trabalho, enviado por alguém que não sabia como se desvencilhar de um problema e soltou o seu mico ao ombro de outrem. Pensando nas competências de cada um, sempre existem controvérsias e covardes existem em todo lugar.

Pode ser um amigo que enredado em suas questões e talvez solitário me enviou o “mico” para representar sua vergonha por haver abandonado todas as suas relações fraternas. Com certeza pensou que meus ombros, que já tanto suportaram não se importariam de carregar a questão alheia. O infeliz pensou nesta redenção por não ter coragem de domar seus próprios micos.

Pensei melhor e quem sabe foi aquele cara das antigas que mandou soltar um mico velho nos meus costados para me chamar a atenção, me fazer voltar no tempo e pensar que tudo pode ser. Talvez ele tenha imaginado que revolvendo a terra fértil da vida passada, o amor estaria ainda lá, intacto.

Mico do amor.


quinta-feira, 3 de junho de 2010

Todos os minutos




Se eu tivesse todos os minutos de minha vida disponíveis para te ouvir, eu teria muitas palavras a mais em meus textos para brincar. Ousar nas letras originais, ensaiando uma conversa infinita.

De tanto ouvir.

Se eu tivesse todo este tempo agora e muito mais pela frente, certamente não me ateria em descobrir fonemas através de linhas que caem.

Se eu tivesse menos ligações interrompidas bruscamente deixando mudos teus lábios e meus ouvidos sem som, eu ficaria com mais ânimo para buscar escritos renovados.

Se eu tivesse chance de a qualquer momento te falar, eu comporia muitas letras desconexas, só para poder te ouvir dizer que não as entende.

Se eu tivesse, ao meu dispor, os minutos que colocamos fora sem dó e por nenhum motivo, tentaria juntá-los e formar uma hora. E de tantas em tantas horas a mais, nosso vocabulário se alongaria só com as conversas que somente eu e tu entendemos.

Se eu tivesse uma hora a mais no meu dia certamente eu ficaria em tua frente sem nada falar, ouvindo o bater do teu coração.

Um coração cheio de assunto.

Se eu tivesse duas horas de sobra, coladas na minha rotina, eu as reservaria para que uma noite se encompridasse.

Com todos os minutos.


Dia do amigo

  Encontros acontecem a todo instante cruzando nosso caminho, pulverizando a atmosfera que nos envolve com um delicado lampejo divino e entr...