Passei minha infância na Praia de Torres, de
onde tenho as mais gratas lembranças de família, de mar e de criança. Minha
casa de hoje na praia rescende a cheiros de outrora e também de acontecimentos
que em todo momento me fazem voltar tão para trás que fico pensando em que vida
me encontro.
Acho que em outra vida, já.
Muitas vezes tonteio tal a força da lembrança e vai daí que
me lembrei dos códigos.
Em Torres, tínhamos uma casa de frente para o mar com
varandão e a maresia acompanhava meu nariz em todas as cenas.
Os códigos começaram quando algumas crianças passavam de
bicicleta pela nossa calçada e eram atingidas pela água de nossas “bixiguinhas”
travessas. Claro que pararam as corridas por ali e a partir deste tempo nossas
correrias na quadra era de todas juntas. Código aceito, turminha formada para o
resto da vida.
Minha mãe nos deixava ir ao mar de tardezinha e estabeleceu
um código: ao pendurar uma toalha branca na varanda, tínhamos que voltar. Eu,
magrelinha, nem havia entrado no mar já me via louca de frio e de olho na
toalha para poder retornar. Engraçado, para mim, estar refugiada, alguém me
chamar, voltar para meu canto já era fundamental.
Liberdade vigiada, diríamos hoje. Até hoje eu a pratico de
mim para mim.
Mas os códigos continuaram também acontecendo, mais não seja
por ser dada a delírios e inspirações tomando gosto pela surpresa, pela
aventura, para o desafio de me deixar ir destemperada, para depois voltar.
Pois é um código moderno, o SMS, quem vive me surpreendendo.
Apenas um “plin” e sempre lá está uma mensagem curta e significativa que me faz
voar para algum lado. No pensamento, na resposta criativa ou numa viagem, me
jogo do “plin” para um caminho divertido e lúdico que reforça minha tendência
de arriscar.
O e-mail acompanha de fato estas viradas, no susto e na
expectativa de receber aquele aviso, aquele pensamento, aquele “alô” do
distante que aproxima tanto, criando laços reais na confissão dos mais diversos
sentimentos. A caixa reveladora de tudo. Dos mistérios às mais irrelevantes
conversas.
E de surpresa em surpresa, aqui na minha praia de agora, uma
vizinha me joga um código tão meu conhecido ao me dizer que em breve, após
estar instalada em sua casa, colocará uma toalha azul na varanda, avisando que
ela já está a minha espera, para uma conversa, um chimarrão. Só poderia
acontecer comigo esta alegria de reviver, mais uma vez, um código infantil.
Presto muita atenção no detalhe.
São códigos
imperdíveis!
Escrever para viver e viver para escrever. A inspiração é o meu objeto de desejo a cada amanhecer e assim minha alma fica fortalecida no encontro do silêncio e da natureza marítima. Leiam com bons olhos! Mail para contato: verarenner43@gmail.com Vera Lucia Renner
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Códigos
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