segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Códigos


Passei minha infância na Praia de Torres, de onde tenho as mais gratas lembranças de família, de mar e de criança. Minha casa de hoje na praia rescende a cheiros de outrora e também de acontecimentos que em todo momento me fazem voltar tão para trás que fico pensando em que vida me encontro.

Acho que em outra vida, já.

Muitas vezes tonteio tal a força da lembrança e vai daí que me lembrei dos códigos.

Em Torres, tínhamos uma casa de frente para o mar com varandão e a maresia acompanhava meu nariz em todas as cenas.

Os códigos começaram quando algumas crianças passavam de bicicleta pela nossa calçada e eram atingidas pela água de nossas “bixiguinhas” travessas. Claro que pararam as corridas por ali e a partir deste tempo nossas correrias na quadra era de todas juntas. Código aceito, turminha formada para o resto da vida.

Minha mãe nos deixava ir ao mar de tardezinha e estabeleceu um código: ao pendurar uma toalha branca na varanda, tínhamos que voltar. Eu, magrelinha, nem havia entrado no mar já me via louca de frio e de olho na toalha para poder retornar. Engraçado, para mim, estar refugiada, alguém me chamar, voltar para meu canto já era fundamental.

Liberdade vigiada, diríamos hoje. Até hoje eu a pratico de mim para mim.

Mas os códigos continuaram também acontecendo, mais não seja por ser dada a delírios e inspirações tomando gosto pela surpresa, pela aventura, para o desafio de me deixar ir destemperada, para depois voltar.

Pois é um código moderno, o SMS, quem vive me surpreendendo. Apenas um “plin” e sempre lá está uma mensagem curta e significativa que me faz voar para algum lado. No pensamento, na resposta criativa ou numa viagem, me jogo do “plin” para um caminho divertido e lúdico que reforça minha tendência de arriscar.

O e-mail acompanha de fato estas viradas, no susto e na expectativa de receber aquele aviso, aquele pensamento, aquele “alô” do distante que aproxima tanto, criando laços reais na confissão dos mais diversos sentimentos. A caixa reveladora de tudo. Dos mistérios às mais irrelevantes conversas.

E de surpresa em surpresa, aqui na minha praia de agora, uma vizinha me joga um código tão meu conhecido ao me dizer que em breve, após estar instalada em sua casa, colocará uma toalha azul na varanda, avisando que ela já está a minha espera, para uma conversa, um chimarrão. Só poderia acontecer comigo esta alegria de reviver, mais uma vez, um código infantil.

Presto muita atenção no detalhe.

São códigos imperdíveis!

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