domingo, 13 de julho de 2008

Eu roubava jaboticabas




O jardim da minha infância era imenso e ele era todo o meu mundo. Perfeito com muitos recantos diferentes para todo tipo de fantasia e brincadeiras. Até hoje o cheiro do verão, a visão das borboletas me assaltam sem nenhum aviso me lembrando que fui criança feliz e solitária apesar de tão bem acompanhada por tudo.

Nosso quintal tinha muitas frutas, laguinho com peixes e um impecável chafariz no centro de um gramado de veludo. No entorno, a vizinhança, não tão caprichosa e alvo da nossa curiosidade. Estas províncias alheias desafiavam o espírito de aventura e traquinices. Na casa ao lado, muito antiga e descuidada, moravam duas senhoras a quem nós denominávamos de “velhas”. As duas exerciam um fascínio sobre nós, pois sua aparência era bem aterradora... muito isoladas com pouco cabelo andavam pelo jardim descuidado como sombras.

Contrariando a tudo nós adorávamos pular aquele muro e tremendo de medo com coração na boca subíamos na jaboticabeira da casa da velha e nos fartávamos com os frutos proibidos, caindo como fruta madura aos pés da dona da casa a nos olhar ameaçadora, embaixo da árvore. E corríamos feito loucas para nosso paraíso.

Fico pasma, hoje, ao lembrar desta imagem aterradora da infância, pois penso o quanto estas vizinhas que não mais tinham o que fazer do que nos assustar, devem ter se divertido. Talvez, para elas, tenha sido a melhor diversão esperar a época das frutas para receberem a invasão das crianças e poder aterrá-las e depois morrer de rir!!!!!!

Terrores e fantasias fazem parte do imaginário infantil sendo talvez um treinamento para a fase adulta quando seremos uns mais outros menos, assombrados por todo tipo de situação ameaçadora provocadas por nós ou simplesmente pela vida.

Penso em quantas situações pela vida afora me aterrei e sucumbi ao pânico de forma desnecessária pois bastaria bater à porta e abrir meu coração para a situação ter outro destino. Pular o muro de volta mais rápido e quem sabe ter o paraíso seguro de volta.

Será mais fácil e com menos sofrimento indagar e pedir licença para tratar de assuntos que poderão nos divertir, esclarecer ou melhorar nossa vida?

A comunicação é a palavra da hora sem que isto em nada adiante em muitas ocasiões. Infelizmente.

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