Já na madrugada comecei a
perceber que o mar estava diferente parecendo aguardar que eu fosse até ele e
desfiasse minha fala e – quem sabe – enfrentar uma atitude mais radical neste
novo dia que se insinua e dá as caras.
Ao seguir até bem perto de suas ondas ele pareceu estar aberto para mim
me incentivando a me aventurar com ele em mar aberto. Para isso baixou os flaps
das ondas, amornou a temperatura, tirou o vento da crista de sua espuma, clareou
bem o fundo, retirou os frequentes declives preparando o caminho para que eu
alcançasse o mistério de suas águas, hoje.
Ansiosa, mas preparada, me dei
conta que havia chegado o tempo em que a praia havia se aberto a mim o que me
levou a entrar em suas águas com firmeza, preparando meu corpo para esta dança
tão aguardada todos os anos. Iniciei o deslize imaginando o que cada braçada
poderia significar uma vez que eu o conheço e sei que sua profundeza é rica em
detalhes e surpresas, afinal vou interagir com a vida marinha.
Eu já tinha lançado a rota que
autorizava o nado sincronizado do meu corpo que estalava mansamente buscando a
magia de alternar a respiração e o movimento como se fosse um só, singrando por
entre as ondas, ora mornas e em outro momento geladas marcando a trajetória e
avisando que por ali existe mudança sutil, improvável e inesperada.
Cada braçada cobria um trecho
ínfimo da grandiosidade do oceano e a cada braçada eu enxergava o fundo do mar
que se exibia me mostrando os cardumes coloridos, as algas flutuantes, as
faíscas da luz do sol acompanhando meu nado, a estrela do mar, os corais, as
conchas de madrepérola entremeadas pelo jardim interno deste mar abençoado.

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