sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Mar aberto

 


Já na madrugada comecei a perceber que o mar estava diferente parecendo aguardar que eu fosse até ele e desfiasse minha fala e – quem sabe – enfrentar uma atitude mais radical neste novo dia que se insinua e dá as caras.  Ao seguir até bem perto de suas ondas ele pareceu estar aberto para mim me incentivando a me aventurar com ele em mar aberto. Para isso baixou os flaps das ondas, amornou a temperatura, tirou o vento da crista de sua espuma, clareou bem o fundo, retirou os frequentes declives preparando o caminho para que eu alcançasse o mistério de suas águas, hoje.

Ansiosa, mas preparada, me dei conta que havia chegado o tempo em que a praia havia se aberto a mim o que me levou a entrar em suas águas com firmeza, preparando meu corpo para esta dança tão aguardada todos os anos. Iniciei o deslize imaginando o que cada braçada poderia significar uma vez que eu o conheço e sei que sua profundeza é rica em detalhes e surpresas, afinal vou interagir com a vida marinha.

Eu já tinha lançado a rota que autorizava o nado sincronizado do meu corpo que estalava mansamente buscando a magia de alternar a respiração e o movimento como se fosse um só, singrando por entre as ondas, ora mornas e em outro momento geladas marcando a trajetória e avisando que por ali existe mudança sutil, improvável e inesperada.

Cada braçada cobria um trecho ínfimo da grandiosidade do oceano e a cada braçada eu enxergava o fundo do mar que se exibia me mostrando os cardumes coloridos, as algas flutuantes, as faíscas da luz do sol acompanhando meu nado, a estrela do mar, os corais, as conchas de madrepérola entremeadas pelo jardim interno deste mar abençoado.

 

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