Encontrei uma casa abandonada
cercada de mato agreste e mesmo assim ainda possuía sua beleza pois, dentre o
caos vegetativo reinante, sobreviviam delicadas flores do campo totalmente
desconhecidas da botânica popular que ali estavam vicejando em agradável conluio
com seus pares que, desde sua origem cresceram para enredar aquele campo que
por um motivo inimaginável foi abandonado ou, por força da circunstância,
sentiu que já era momento de se tornar ruína, mas não sem antes escrever sua
história ou permitir que outros a inventem.
Esta leitura eu fiz ao entrar
naquele quintal desfeito pelo tempo e por este motivo decidi passar por uma
porta lateral que estava tão escangalhada como o antigo jardim da propriedade. Com
apenas um empurrão a abertura de madeira muito antiga cedeu, exibindo sem pudor
os ingredientes de uma construção que havia perdido sua cor, sua personalidade
e o motivo pelo qual alguém a desenhou.
O lugar estava em péssimas
condições de conservação, parecendo que o ambiente, um ou outro móvel, a
escada, a janela, o assoalho, a aldrava e o peitoril resolveram se deteriorar
ao mesmo tempo dando a impressão que todos os que participaram da vida antiga
da velha casa decidiram terminar a vida útil juntos.
Na janela principal que
estendia sua vista em um grande terraço estava deposto um caderno, tão
maltratado como o imóvel, porém, continuava firme, com sua capa mofada, páginas
úmidas e enroscadas uma na outra, algumas partes coladas e outras ainda pareciam
ter sido rasgadas do tomo original.
Impelida para a imaginação ao
visualizar este quadro de grande expressão histórica familiar, percebi o diário
deposto considerando que tenha sido a propósito para que a vizinhança e
caminhantes aleatórios tivessem a curiosidade de examinar as marcas deixadas no
relato original. Como todo caos não se explica vou reviver a vida deste lugar com
outro contorno.

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