quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Farrapos com história

 


Ao entrar na casa me deparei com esta poltrona com aparência deteriorada colocada em um canto abaixo de uma luminária nas mesmas condições, parecendo que se formara ali uma parceria e o desejo seria ajuda-la com sua luz antiga, de iluminação amarelada, quente e com brilho opaco. Estavam ali as duas juntas parecendo esperar alguém ou alguma coisa exibindo a altivez de um móvel com design antigo, portando em seu tecido bem gasto algumas franjas esfarrapadas, palidez delicada no tecido original com um suporte de madeira sem sinal do tempo, dando a nítida impressão que as emoções ocorridas nesta mansão deixaram suas marcas e por este motivo ninguém as quis apagar.

A grande família que ali residia há tantas décadas foi se extinguindo a medida que os anos passaram. Os moradores tomaram novos rumos ficando por último apenas Sr. Eusébio, o dono da casa desde sua construção, que também partira com serenidade, não sem antes dormitar na sua poltrona favorita e talvez por este motivo ela ainda estava no mesmo lugar de toda uma vida.

Fiquei imaginando a história que poderia ser contada sobre esta habitação que exalava no entorno da rua uma fragrância que rescindia a entendimento, talvez porque sua linha de construção harmoniosa e o paisagismo se misturava ao clima da rua que nasceu para abriga-los.

Na entrada havia um portão de ferro trabalhado com impressionante dom artístico e que se mantinha ali, empedernido, emoldurando o imenso jardim que se descortinava a partir desta entrada suave, sólida e segura. O vento deixou a porta de madeira - que possuía design harmônico com o portão - entreaberta e assim, um tanto emocionada, decidi entrar sem permissão no recinto que na aparência se configura um santuário.

A passagem rangeu ao leve empurrão e quando a brisa se movimentou pulverizou o salão com uma fina camada de cintilante névoa direcionando um frouxo facho de luz na majestosa poltrona que permitia ser vista vestindo os andrajos da vida.

 

 

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