Ao entrar na casa me deparei
com esta poltrona com aparência deteriorada colocada em um canto abaixo de uma
luminária nas mesmas condições, parecendo que se formara ali uma parceria e o
desejo seria ajuda-la com sua luz antiga, de iluminação amarelada, quente e com
brilho opaco. Estavam ali as duas juntas parecendo esperar alguém ou alguma
coisa exibindo a altivez de um móvel com design antigo, portando em seu tecido
bem gasto algumas franjas esfarrapadas, palidez delicada no tecido original com
um suporte de madeira sem sinal do tempo, dando a nítida impressão que as
emoções ocorridas nesta mansão deixaram suas marcas e por este motivo ninguém
as quis apagar.
A grande família que ali residia
há tantas décadas foi se extinguindo a medida que os anos passaram. Os
moradores tomaram novos rumos ficando por último apenas Sr. Eusébio, o dono da
casa desde sua construção, que também partira com serenidade, não sem antes
dormitar na sua poltrona favorita e talvez por este motivo ela ainda estava no
mesmo lugar de toda uma vida.
Fiquei imaginando a história
que poderia ser contada sobre esta habitação que exalava no entorno da rua uma
fragrância que rescindia a entendimento, talvez porque sua linha de construção
harmoniosa e o paisagismo se misturava ao clima da rua que nasceu para
abriga-los.
Na entrada havia um portão de
ferro trabalhado com impressionante dom artístico e que se mantinha ali,
empedernido, emoldurando o imenso jardim que se descortinava a partir desta
entrada suave, sólida e segura. O vento deixou a porta de madeira - que possuía
design harmônico com o portão - entreaberta e assim, um tanto emocionada, decidi
entrar sem permissão no recinto que na aparência se configura um santuário.
A passagem rangeu ao leve
empurrão e quando a brisa se movimentou pulverizou o salão com uma fina camada
de cintilante névoa direcionando um frouxo facho de luz na majestosa poltrona
que permitia ser vista vestindo os andrajos da vida.

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