domingo, 21 de setembro de 2025

O oculto



Nestes dias tenho tido uma sensação que me segue a certa distância, jamais chegando muito perto nem mesmo dando as caras porque simplesmente é apenas uma impressão de algo que permeia o espaço e que eu não consigo sequer colocar os olhos para conhecer ou reconhecer e muito menos entender o que esta percepção quer me contar.

Sempre aparece distraindo minha vista do que é costume conferir no meu dia empanando a sombra regular da casa e, na sequência, sem que eu perceba, surge aqui e ali uma névoa que flutua ao meu redor entrando no recinto pelas frestas, por debaixo da porta, pela janelinha do respiro, pelo vão da janela e pela fechadura que, por ser muito antiga, possui uma desacomodação na sua estrutura.

Neste dia em que o sol se escondeu, o mar se acinzentou, as areias e as folhas aceitaram a chuva mansa que avança embalada pelo vento costeiro resolvi me colocar a postos e vigiar os vãos do espaço, afinal, pode ser que a umidade faça um bom trabalho e emparede a densa névoa que por aqui rasteja.

Fiquei imaginando várias causas para este incômodo sem nome e sem rosto que parece sempre beirar este lado de cá, subindo a escada e, ao ignorar a fechadura entra sem bater com uma teimosia que joga poeira no desenho lúdico trançado entre os móveis e adornos. A casa tem sempre um movimento que aguarda o alvorecer para executar a dança do significado e o balé do equilíbrio de forças contrárias, ludibriando o oculto, todo dia, mais uma vez.


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