Nestes dias tenho tido uma
sensação que me segue a certa distância, jamais chegando muito perto nem mesmo
dando as caras porque simplesmente é apenas uma impressão de algo que permeia o
espaço e que eu não consigo sequer colocar os olhos para conhecer ou reconhecer
e muito menos entender o que esta percepção quer me contar.
Sempre aparece distraindo
minha vista do que é costume conferir no meu dia empanando a sombra regular da
casa e, na sequência, sem que eu perceba, surge aqui e ali uma névoa que
flutua ao meu redor entrando no recinto pelas frestas, por debaixo da porta,
pela janelinha do respiro, pelo vão da janela e pela fechadura que, por ser
muito antiga, possui uma desacomodação na sua estrutura.
Neste dia em que o sol se
escondeu, o mar se acinzentou, as areias e as folhas aceitaram a chuva mansa
que avança embalada pelo vento costeiro resolvi me colocar a postos e vigiar os
vãos do espaço, afinal, pode ser que a umidade faça um bom trabalho e emparede
a densa névoa que por aqui rasteja.
Fiquei imaginando várias
causas para este incômodo sem nome e sem rosto que parece sempre beirar este
lado de cá, subindo a escada e, ao ignorar a fechadura entra sem bater com uma teimosia
que joga poeira no desenho lúdico trançado entre os móveis e adornos. A casa
tem sempre um movimento que aguarda o alvorecer para executar a dança do
significado e o balé do equilíbrio de forças contrárias, ludibriando o oculto, todo
dia, mais uma vez.
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