sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Atracar

 


O tempo que recebeu a nova estação que eu chamo de Princesa do Clima, a Primavera veio acalmando os ânimos do lugar sendo visível que todos entraram na pasmaceira aproveitando que o vento não surge cheio de humores arrastando o que vê pela frente, a chuva não desagua de uma vez só inundando além dos córregos, ruas e passadiços frágeis, o sol entra ameno, mas sempre se diverte no avanço do dia brilhando com força. Os bichos saem das tocas e caminham preguiçosos pelas ruas e os pássaros refazem seus ninhos na copa das árvores que agradecem o esmorecer do tempo mais severo.

O pescador aproveita as águas baixarem seu nível e resolve, ao invés de pegar o caniço, colocar a canoa simples e romântica a navegar lembrando os tempos em que iniciou o trabalho junto ao mar, travando todos os dias uma aventura apaixonante que singulariza todos os minutos dos seus dias desde o combate às ondas até o navegar turbulento - ou sereno - sempre tendo como presente da Vida o retorno ao lar. Foi nesta canoa que iniciou sua vida entre a areia e o oceano.

Nem bem havia iniciado o passeio a canoa encontrou um banco de areia oculto pela maré baixa assentando-se com toda a gala possível deixando seu dono enredado no nível de água tão baixo que mais parecia um chão de vidro.  O momento veio segredar ao pescador que nem todo dia será de singrar pelas águas duvidosas e que este dia veio a propósito cochichar em seu ouvido que tempos altivos e severos necessitam ter uma pausa para, deste modo, acalmar a temperatura da Vida em curso. A canoa de simples construção alçou hoje o vigor inerente a simplicidade de ser, de não possuir nenhum acessório que não fosse seu próprio dorso com a missão de, pelo menos hoje, ancorar no leito que lhe dá passagem todos os dias.

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