quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Patuá e a Reza

 


Encontrei este Patuá no meio da rua e fiquei pensando como este símbolo da sorte se perdeu nesta inoportuna sarjeta, em meio a areia da praia coberta de folhas secas multicoloridas que imperam no inverno, pinhas minúsculas dos pinheiros abundantes, deixando apenas à vista um brilho exíguo de metal, de cristal, de laços de fita, de correntes delicadas. Sentei na beira da calçada para descansar o lombo e aproveitei para esticar a mão e resgatar aquele Patuá que estava parecendo um entulho surreal sem serventia.

Um pouco incerta e com calculada cerimônia o tratei com reverência, afinal, ali constava vários ícones de bons augúrios que se misturavam ritualisticamente dando a entender que este punhado de mantras enganchados possuía um destino comum, um propósito nobre, um recado em uníssono buscando, quem sabe, chamar a atenção de algumas ou muitas almas que se perderam dentro de si e agora, sem norte, sem energia, sem luz, vagam como singelos fantasmas.

Fiquei imaginando que cada um daqueles símbolos representava uma liquidação, uma reza, um pedido de talvez uma ou muitas impossibilidades que se apresentaram na vida de alguns. Poderia ser uma criança com sonho de ter sorte na vida futura, uma mulher com reza forte para encontrar seu amado, um homem com pedido de proteção para sua família, um idoso implorando um mantra diferente todo dia para lhe dar força na caminhada final.

O Patuá, ao encontrar ali, quase no chão escuro tantas referências, renovou o olhar para além das coisas, chacoalhou a areia da praia do seu corpo emaranhando, soltou seus frágeis arreios dando brilho a todos que ali foram se misturar para se encontrar na Reza.

Nenhum comentário:

A espreita

  Valter havia acordado cedo naquele dia porque estava pensando na Maria Estela, aquela moça da esquina que lhe chamava a atenção por ser – ...