Encontrei este Patuá no meio
da rua e fiquei pensando como este símbolo da sorte se perdeu nesta inoportuna
sarjeta, em meio a areia da praia coberta de folhas secas multicoloridas que
imperam no inverno, pinhas minúsculas dos pinheiros abundantes, deixando apenas
à vista um brilho exíguo de metal, de cristal, de laços de fita, de correntes
delicadas. Sentei na beira da calçada para descansar o lombo e aproveitei para
esticar a mão e resgatar aquele Patuá que estava parecendo um entulho surreal
sem serventia.
Um pouco incerta e com
calculada cerimônia o tratei com reverência, afinal, ali constava vários ícones
de bons augúrios que se misturavam ritualisticamente dando a entender que este
punhado de mantras enganchados possuía um destino comum, um propósito nobre, um
recado em uníssono buscando, quem sabe, chamar a atenção de algumas ou muitas
almas que se perderam dentro de si e agora, sem norte, sem energia, sem luz,
vagam como singelos fantasmas.
Fiquei imaginando que cada um
daqueles símbolos representava uma liquidação, uma reza, um pedido de talvez
uma ou muitas impossibilidades que se apresentaram na vida de alguns. Poderia
ser uma criança com sonho de ter sorte na vida futura, uma mulher com reza
forte para encontrar seu amado, um homem com pedido de proteção para sua família,
um idoso implorando um mantra diferente todo dia para lhe dar força na
caminhada final.
O Patuá, ao encontrar ali, quase
no chão escuro tantas referências, renovou o olhar para além das coisas,
chacoalhou a areia da praia do seu corpo emaranhando, soltou seus frágeis
arreios dando brilho a todos que ali foram se misturar para se encontrar na Reza.
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