Ao acordar tive que olhar duas
vezes para a linda temperatura que cercava a minha casa, que me envolvia
carinhosamente, que gelava meus ossos, que arrepiava meu cabelo, que orvalhava
o caminho e a bancada onde descanso, não porque preciso, mas para poder
organizar a mente que anda sempre aloprada por aí e, às vezes, ela precisa de
uma correia bem forte para se aquietar. Como sou dominada pela palavra, antes
dela vem o que dizer.
Me assento no banco de praça
desta rua gelada que sorri para mim, me abana com uma brisa fresquinha e
deliciosa demais, respinga meus cabelos com as últimas gotas de orvalho na beira do mar, afaga minhas mãos chamando o sol para participar
deste encontro que apenas se inicia no calendário. A luz quentinha do dia e o ar manso gelado
combinaram de ser amigáveis porque eles sabem muito bem que o calor passado
mora dentro de mim. É preciso expulsá-lo de maneira sutil e amorosa, uma vez
que ele voltará, certamente, com sede de vingança.
A questão agora é como
proceder, com gentileza, para retirar da retina aquele tempo abrasador, aquele
sol inclemente que rasgava o céu e dominava absoluto durante as horas
intermináveis do dia da estação fumegante.
O que servirá como fio condutor para tirá-lo de dentro das minhas
entranhas, onde parece, mesmo hoje, instalado para nunca mais de mim desviar.
Vou acionar os fantasmas que
assombram o verão e já estão a postos: um casaco pesado pendurado na entrada da
casa, gorro, manta, bota forrada com lã de ovelha. Na cozinha, sopa no fogão a
lenha, bolinho frito, chimarrão, chaleira chiando, pipoca, quentão, vinho
tinto, cachaça com limão e um cartão postal do inverno na Europa. Estas armas
sutis e zombeteiras farão o calor, internalizado, tomar chá de sumiço.
Um comentário:
Aqui, recém começado o calor, já tenho ganas de viver momentos como estes que descreveste. Adoro inverno!
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